Endometriose: não tem cura e destrói sonhos de mulheres

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“Estas dores não devem ser normalizadas. Dores menstruais lancinantes não são normais”. Vai haver marcha em Lisboa.

“Estas dores não devem ser normalizadas. Dores menstruais lancinantes não são normais. Esta normalização da dor, associada ao facto de estas mesmas dores se poderem manifestar noutras zonas do corpo, explicam que haja um atraso enorme no correto diagnóstico”.

As palavras são de Catarina Marques, ginecologista do IVI Lisboa, que assim descreve a endometriose: “É uma condição devastadora marcada por dois aspetos cruéis: a dor crónica, que pode ser incapacitante, ao ponto de impedir a mulher de trabalhar, e o risco de infertilidade, que ameaça o sonho da maternidade”.

É uma doença caracterizada pela presença de glândulas e estroma endometrial fora do útero, o que provoca inflamações. É uma doença crónica, cujas causas são desconhecidas e que afeta aproximadamente 350 mil mulheres, 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva.

A endometriose não tem cura. Mas pode ser tratada, para melhorar a qualidade de vida da mulher, prevenir a progressão da doença e preservar a fertilidade.

“As opções incluem desde terapias hormonais até intervenções cirúrgicas complexas, como a laparoscopia para remoção de lesões endometriais. Nos casos em que se verifica dificuldade para engravidar, o recurso a técnicas de procriação medicamente assistida torna-se numa alternativa eficaz. Para isso, é fundamental diagnosticar a doença o mais cedo possível, uma vez que a idade da mulher é um fator determinante para uma gravidez, com ou sem ajuda médica”, indica a médica, em comunicado enviado ao ZAP.

Além disso, a dor não deve ser normalizada: dor menstrual, dor na relação sexual, dor ao evacuar ou ao urinar são os principais sintomas da endometriose, mas podem existir outras dores associadas, como a abdominal ou torácica.

Cada doente tem sintomas diferentes e níveis distintos de dor. Esta dor pode estar relacionada ou não com a menstruação, mas também podem existir sintomas gastrointestinais ou urinários se o tecido endometrial invadir o intestino ou a bexiga.

“O diagnóstico deve ser, por isso, atempado e exige um acompanhamento médico integrado, para tratar a dor física e emocional e, ao mesmo tempo, não destruir sonhos, como o de ter uma família”, avisa Catarina.

Esse diagnóstico muitas vezes é tardio, podendo ultrapassar os 10 anos. Durante esse tempo, a mulher enfrenta dores severas e um impacto emocional profundo.

Marcha em Lisboa

As mulheres têm conseguido algumas conquistas neste assunto – como a justificação de faltas para quem sofre de endometriose. Mas muitas continuam a enfrentar dificuldades no acesso a cuidados de saúde integrados.

Conhecida como a doença da mulher moderna, a endometriose também tem efeitos noutro aspecto da vida das mulheres modernas: a carreira profissional. Em média, as mulheres com endometriose têm de faltar ao trabalho mais vezes do que aquelas que não sofrem da doença. É um entrave na carreira da mulher.

Susana Fonseca, presidente da MulherEndo – Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose, defende um “acompanhamento digno e adequado nos hospitais, com uma equipa multidisciplinar que integre especialistas em nutrição, psicologia, fisioterapia do pavimento pélvico, entre outras valências, para controlar sintomas e devolver qualidade de vida às mulheres”.

Por isso, no próximo dia 29 de março, Lisboa vai ser o palco da “EndoMarcha”, a caminhada que pretende juntar centenas de mulheres.

Os principais objetivos são: cuidados de saúde integrados para controlar sintomas, devolver qualidade de vida e garantir a preservação da fertilidade.

ZAP //

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