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O nosso amor por chocolate está a extinguir o maior inseto do mundo

Um dos besouros gigantes de África — um dos maiores insetos do mundo — está a um passo da extinção. A culpa é maioritariamente da indústria do cacau no ocidente do continente.

Uma espécie dos enormes besouros Golias já foi quase dizimada pela indústria do cacau da África Ocidental e, em menor escala, pelo comércio internacional de insetos secos, revelou uma nova investigação. Afinal, o que correu mal e como é que o besouro Golias pode ser salvo?

Os besouros Golias (género Goliathus) estão entre os maiores incestos do mundo. Existem cinco espécies diferentes, que crescem até 11 centímetros de comprimento; os machos têm chifres em forma de Y e as fêmeas não têm chifres.

Estes besouros encontram-se nas florestas tropicais da Serra Leoa, Libéria, Guiné, Costa do Marfim, Gana, Burkina Faso, Benim, Nigéria, Camarões, República Democrática do Congo, Uganda e Sudão do Sul. As larvas de besouro, ou larvas, são omnívoras e provavelmente alimentam-se de carne e de restos de plantas. Têm um papel importante no transporte de nutrientes através do ecossistema florestal para alimentar outras plantas e animais. Os besouros adultos alimentam-se apenas da seiva de algumas espécies de árvores em zonas de floresta tropical madura.

O besouro-golias é um excelente indicador da saúde da floresta: se forem abundantes numa floresta é porque a floresta está em condições suficientemente boas para suportar outras espécies. Mas quando as suas populações diminuem,  é um indicador de alerta precoce do esvaziamento das florestas e da erosão dos ecossistemas.

O que aconteceu?

Luca Luiselli, professor de bioestatística e ecologia na Universidade de Lomé, no Togo, investiga espécies ameaçadas nas florestas africanas há 30 anos. A estudar os répteis ameaçados nas florestas da África Ocidental, a sua equipa de ecologistas de países africanos e europeus percebeu que os besouros-golias partilhavam o mesmo habitat e poderiam também estar em perigo.

A equipa iniciou então campanhas intensivas de entrevistas presenciais nas comunidades para saber se os locais (caçadores, agricultores, coletores de caracóis, de cogumelos e de madeira e outros materiais florestais) tinham notado uma menor presença de besouros Golias.

Quando confirmaram os receios, os investigadores decidiram lançar uma investigação aprofundada. Começou por localizar as árvores que estavam a escorrer seiva, porque se sabe que os besouros adultos se alimentam de seiva durante o dia. Depois, olhou para as copas das árvores por onde voavam todas as manhãs, voltando à noite para os recolher e medir antes de os libertar no seu habitat natural.

A equipa descobriu que dois destes insetos gigantes, Goliathus regius Klug e Goliathus cacicus Olivier, estão ameaçados de extinção.

O Goliathus cacicus é a mais pequena das duas espécies de besouros gigantes; tem até 95 mm de comprimento (normalmente 60-84 mm) e só vive em florestas tropicais maduras. O Goliathus regius pode atingir 105 mm de comprimento (normalmente 75-95 mm) e prefere florestas mais secas. Ocasionalmente, vivem no mesmo pedaço de floresta e até na mesma árvore e acasalam, dando origem a híbridos naturais.

Calcula-se que cerca de 80% da população de Goliathus cacicus tenha sido dizimada na Costa do Marfim, se tivermos em conta a quantidade de floresta destruída para a cultura do cacau. Da mesma forma, o Goliathus regius perdeu cerca de 40% do seu habitat natural.

Com base na perda de habitat registada, acredita-se que o Goliathus cacicus teve um declínio catastrófico nos últimos 30 anos. Parece ter sido extinto em várias áreas da África Ocidental, como o Parque Nacional da Floresta do Banco em Abidjan, na Costa do Marfim, provavelmente devido ao facto de milhares destes besouros terem sido capturados e vendidos no mercado internacional de insetos secos.

Outras espécies estreitamente relacionadas, como o Goliathus goliatus, continuam a ser vendidas às centenas no mercado de insetos secos, principalmente no sudoeste dos Camarões e, em menor escala, no Quénia e no Uganda, exportados para mercados ocidentais.

Devido ao facto de existirem em grande número e numa área muito vasta, ainda não são uma espécie em vias de extinção. Há grandes áreas de África onde os besouros estão protegidos. As florestas da Nigéria, dos Camarões, do Uganda, do Sudão do Sul, do Ruanda e do Quénia oferecem um abrigo valioso ao Goliathus goliatus. O Gabão, o norte da República do Congo e o norte da República Democrática do Congo têm florestas vastas, em grande parte pristinas e inacessíveis, onde os besouros Goliathus goliatus não estão ameaçados.

Como é que os podemos salvar?

É imperativo proteger o seu habitat natural — os restos das florestas da Costa do Marfim e da Libéria onde viveram. Deve ser dada especial atenção à proteção das árvores onde estes besouros tendem a concentrar-se.

Mesmo as espécies que não estão em perigo neste momento precisam de florestas húmidas para sobreviverem, mas estão a enfrentar ameaças crescentes devido à desflorestação, à conversão de terras, à exploração mineira e às alterações climáticas. Podem ser as próximas a ser ameaçadas e devem ser cuidadosamente monitorizadas.

Para além das reservas protegidas e dos parques nacionais (o mais importante é o Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim), não existem medidas reais para limitar a expansão das plantações de cacau na África Ocidental.

Os cientistas, as agências governamentais e as organizações sem fins lucrativos da África Ocidental devem chegar a acordo sobre um plano de ação para conservar os besouros Golias, especialmente o Goliathus cacicus.

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