NAPA, Diana Vilarinho, Fernando Daniel, Bombazine, Emmy Curl e… HENKA apuradas. E Tota? E Luca Argel? Uma meia-final particular.
Houve, no mínimo, três momentos particulares na segunda meia-final do Festival da Canção 2025, que se realizou no sábado passado, nos estúdios da RTP.
‘Deslocado’, de NAPA. ‘Cotovia’, de Diana Vilarinho. ‘Medo’, de Fernando Daniel. ‘Apago Tudo’, de Bombazine. E ‘Rapsódia da Paz’, de Emmy Curl.
Estas foram as cinco primeiras músicas apuradas para a final do concurso. Foram as escolhas do júri e do público, numa mistura de votos. Lista definida, nada adianta “reclamar” ou dizer que esta ou aquela poderiam ter ficado fora.
Mas há o outro lado da história: das 10 participantes na meia-final, só quatro ficaram de fora – e três delas foram ‘Responso à Mulher’, de A Cantadeira; ‘á-tê-xis’, de TOTA; e ainda ‘Quem Foi?’, do duelo Luca Argel e Pri Azevedo.
Ora aqui estão três músicas que, por mim, facilmente, levariam 12 pontos… Nenhuma vai estar na final.
O caso da “Responso à Mulher”, que merece aplausos, até será a mais fácil de perceber: quase competia directamente com uma das apuradas: ‘Rapsódia da Paz’, de Emmy Curl. Parte do ritmo, parte do conteúdo, parte do objectivo de ambas coincidiam. Só cabia uma, talvez. Passou a Catarina Miranda (Emmy Curl), que vai repetir a presença na final do Festival, algo que já fez em 2018 – e quase quase ganhava, na altura.
Mas depois apareceu a primeira de duas pérolas:
A actuação impressiona. É forte, é bem pensada. No poema escrito pelo próprio TOTA, em “Á-tê-xis” nada é escrito por acaso. E é curioso que, numa audiência aparentemente cada vez mais jovem do Festival, a Geração Y ou mesmo a Geração Z não tenham reparado nesta letra de encriptados, entre zeros e uns, com alto e pára o byte, de metáforas esgotadas. Os jovens tiveram oportunidade para “salvar” esta música e colocá-la na final; não o fizeram.
Uns minutos depois, ouvimos isto:
Um acordeão, uma voz. Chico Buarque e Luiz Gonzaga misturados em Luca Argel. Roupa branca, as batatas e as couves. ‘Quem Foi?’ trouxe algo tão doce, uma melodia única, misturada com versos tão sérios. Um hino a quem trabalha ou trabalhou. Um poema anti-xenofobia, se ouvirmos bem. “A ideia é desarmar a pessoa que ouve”, comentou o compositor e intérprete Luca Argel. E nada a dizer sobre a interpretação. Parece que o público e o júri não repararam nesta obra-prima que passou ali pelo estúdio da RTP.
“Quero destruir-te”
Deixei ali em cima a lista das cinco primeiras músicas apuradas. Falta a sexta, que foi uma escolha exclusiva do público.
Os telespectadores da Rádio e Televisão de Portugal preferiram HENKA e a sua ‘I Wanna Destroy You’.
“Ai as outras eram para dormir, de um Portugal cinzento, músicas para dormir”, lê-se facilmente entre comentários nas redes sociais.
Primeiro, A Cantadeira e TOTA não levaram propriamente músicas “para dormir”. E a de Luca Argel parece que até fez lembrar a tranquilidade de Salvador Sobral – qual foi o resultado disso, em 2017?
Segundo, então preferimos um barulho… uma música que tem logo no título “Eu quero destruir-te” e lá pelo meio lemos “Parto os teus ossos, ponho uma lâmina na tua garganta” – muito bem.
Mas ficou a melodia de HENKA. Muito mais bela e muito mais bem trabalhada do que a de Luca Argel, por exemplo.
“Queer, votem em mim”
Nos últimos tempos, sobretudo ao longo da última década, o Festival Eurovisão da Canção tem sido cada vez mais associado – com fundamentos – às comunidades gay, LGBTQ+ ou queer. Há mesmo quem diga que o Festival Eurovisão são os “Jogos Olímpicos dos Gays”.
Antes de ser anunciada a sexta e última canção apurada para a final do Festival da Canção, houve (mais) um momento de preencher a emissão, enquanto decorriam as votações.
Provavelmente muitos telespectadores nem ouviram esta parte, porque há quem dispense aquelas entrevistas na green room, sobre comida e expectativas (ou parvoíces).
Mas houve um momento que terá sido inédito no Festival da RTP: em poucos segundos, duas participantes pediram directamente a uma comunidade para votarem nelas. Ambas à queer.
“Comunidade queer: estou aqui a representar-vos. Por isso, se quiserem votar em mim, força. Não tenham medo de serem vocês próprios”, apelou Inês Marques Lucas, cantora de ‘Quantos Queres’.
“Malta, temos de dar um abanão a Portugal. Malta alternativa, malta queer: nós temos que representar Portugal“, disse HENKA – esta conseguiu o que queria, Inês Marques Lucas não.
Faltou Luca Argel pedir votos à comunidade brasileira. Faltou EU.CLIDES apelar ao voto da comunidade africana. E faltou A Cantadeira pedir votos às comunidades feministas e à comunidade do adufe.
Sr. Nuno Teixeira da Silva @ ZAP: é a sua opinião, temos que respeitar, mas se não percebe a letra da música da HENKA, deveria esforçar-se a perceber o que ela quer dizer em vez de apenas criticar… Deixo aqui um excerto de uma entrevista que a Catarina Pereira (HENKA) deu noutro site: “I Wanna Destroy U” é a exteriorização de “raiva reprimida, porque alguém não nos deixa expressar ou uma pessoa que nos quer mal, uma pessoa que nos tenha posto em abuso mental” (…) é uma forma de dizer que “mais vale estar sozinha do que mal acompanhada”. “Fala também muito da luta contra esse tipo de pessoa que nos quer rebaixar, que nos quer esconder”… Apesar de não ser um fã deste género musical, é algo diferente que Portugal nunca teve a coragem de levar a um Festival da Eurovisão. Chegar ao Festival da Eurovisão sempre com o mesmo tipo e estilo de música que Portugal teima em levar, torna-se monótono, mais do mesmo ano após ano, nada de novo… Deixem Portugal tentar um estilo diferente, afinal de contas o objectivo do Festival da Eurovisão é agradar júris e povos de de outros países e não apenas o que o júri e povo português gosta de ouvir…
Se Tota é o habitual letrista de Eu.Clides como é que este passava a ser o autor da letra^desta canção?
Boa tarde.
De facto, EU.CLIDES foi um dos autores da música, mas não da letra. A letra é de TOTA.
Obrigado pela correcção.