As condições meteorológicas e do solo marciano medidas pelo rover Curiosity, em conjunto com um tipo de sal encontrado à superfície, podem sugerir a existência de salmoura durante algumas noites.
Os percloratos identificados no solo marciano pela missão Curiosity, e anteriormente pelo módulo de aterragem Phoenix, têm propriedades de absorção de vapor de água da atmosfera e baixam a temperatura de solidificação da água.
Este tem sido, desde há anos, o mecanismo proposto para a possível existência de salmouras momentâneas a latitudes mais altas em Marte, apesar das atuais condições frias e secas do Planeta Vermelho.
Os novos cálculos têm por base dados de temperatura e humidade recolhidos durante mais de um ano marciano pelo Curiosity. Indicam que as condições no local quase-equatorial do rover são favoráveis à formação de pequenas quantidades de água salgada durante algumas noites do ano, secando novamente durante o nascer-do-Sol.
As condições deverão ser ainda mais favoráveis a latitudes maiores, onde as temperaturas mais frias e mais vapor de água podem resultar numa maior humidade relativa mais frequente.
“A água líquida é um requisito para a vida como a conhecemos, e um alvo das missões de exploração de Marte,” afirma o autor principal do estudo, Javier Martin-Torres, do Conselho Espanhol de Investigação e da Universidade de Tecnologia de Lulea, na Suécia, membro da equipa científica do Curiosity.
“As condições perto da superfície atual de Marte são pouco favoráveis à vida microbiana como a conhecemos, mas a possibilidade de salmoura em Marte tem implicações mais amplas para a habitabilidade e para os processos geológicos relacionados com a água.”
Os dados meteorológicos do artigo publicado na revista Nature Geosciences foram recolhidos pelo instrumento REMS (Rover Environmental Monitoring Station) do Curiosity, construído pela Espanha, e inclui um sensor de humidade relativa e um sensor de temperatura do solo.
“Nós não detetámos salmouras, mas o cálculo da possibilidade da sua existência na Cratera Gale, durante algumas noites, atesta o valor das medições constantes e ao longo de todo o ano, medições estas que o REMS está a fornecer,” comenta Ashwin Vasavada, cientista do projeto Curiosity do JPL da NASA em Pasadena.
A missão do Curiosity é a primeira a medir a humidade relativa na atmosfera marciana perto da superfície e a temperatura do solo a todos os momentos do dia e durante todas as estações do ano marciano.
Nos 12 meses que se seguiram à aterragem de agosto de 2012, o Curiosity encontrou indícios de leitos antigos (rios e lagos) com mais de 3 mil milhões de anos, que forneciam condições favoráveis para a vida microbiana.
Agora, o rover está a examinar uma montanha em camadas dentro da Cratera Gale em busca de dados acerca de como essas condições ambientais passadas poderão ter evoluído.