Último remate do jogo, o ponta português tem hipótese de salvar a sua equipa, mas falha quando só tem o guarda-redes pela frente. Há aqui um déjà vu.
Portugal esteve muito, mesmo muito perto, de conseguir uma medalha num Mundial de andebol. O 4.º lugar já é histórico, inédito, mas o duelo com a França deste domingo poderia ter terminado com vitória portuguesa. Não terminou: 35-34 para a França, que ficou com a medalha de bronze.
Em Oslo, não há que esconder, a motivação dos franceses era inferior à dos portugueses. A França queria estar na final, pensava que ia estar na final; mas a Croácia alterou os planos dos campeões europeus nas meias-finais. Este era um jogo indesejado.
Vários suplentes habituais até foram titulares contra Portugal mas o tempo ia passando, nenhuma das equipas descolava uma da outra no resultado, e aí a França começou a apertar e a sentir nervosismo.
O equilíbrio reinou mesmo até ao fim. O último ataque foi luso e jogada decorreu como o seleccionador Paulo Jorge Pereira tinha pedido no desconto de tempo, segundos antes: troca de bola na zona central, passe aéreo de Fábio Magalhães para a ponta direita, onde António Areia estava sozinho. Aí, a recepção não foi a melhor, mas ainda rematou; a 5 segundos do fim, poderia haver empate – mas o guarda-redes Charles Bolzinger defendeu com a cabeça.
Areia ficou inconsolável. Abaixado, virou costas para a bola, mesmo quando o jogo ainda decorria, e foi imediatamente apoiado pelos compatriotas.
Vários minutos depois da partida, António Areia ainda estava a chorar. Em entrevista à RTP, disse que eram lágrimas de “orgulho”, admitindo que naquele momento era “difícil gerir emoções e pensar de cabeça fria”. Mas acredita que a selecção vai manter este nível em próximas competições.
Déjà vu
O jogador do Tremblay pode ter recordado um outro momento muito semelhante, há poucos anos.
Estávamos em 2021 quando, nessa altura, o FC Porto dominava o andebol nacional e era uma das melhores equipas da Europa.
Em Abril de 2021, oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Na primeira “mão”, os portistas derrotaram em casa o poderoso Aalborg por 32-29. Margem de três golos para o duelo na Dinamarca.
Na segunda “mão”, o campeão dinamarquês vencia por 27-24. Uma diferença também de três golos, mas com vantagem para o Aalborg porque marcava mais golos fora de casa.
Na última jogada, mesmo no último remate do jogo, António Areia aparece sozinho na ponta direita mas falha o golo que daria apuramento portista. FC Porto eliminado.
“Já vimos isto em qualquer lado”. Ou, como desta vez foi contra a França, fica a sensação de déjà vu.
Refira-se que o Aalborg só parou na final. Afastou o FC Porto, depois o Flensburg, depois o PSG; só perdeu na final contra o Barcelona. Não sabemos se o FC Porto conseguiria o mesmo percurso, chegando pela primeira vez à final da Liga dos Campeões, mas ficou no ar o “se”…
Surpreendeu?
O essencial é que fica para a história o melhor registo de sempre de uma selecção portuguesa sénior de andebol. Pela primeira vez, Portugal ficou até ao último dia de uma grande competição.
Surpreendeu? Se calhar nem tanto. Até os jogadores da Dinamarca, antes da meia-final de sexta-feira, admitiam que não ficaram assim tão surpreendidos por Portugal ter chegado às meias-finais.
Nestes 17 jogadores históricos, sublinhamos que só dois atletas jogam por um clube estrangeiro: Luís Frade é do Barcelona e… António Areia joga pelo Tremblay. 15 dos 17 jogadores heróis jogam em Portugal, num cenário de assinalar (e irrepetível?).
A base desta selecção são o Sporting e o FC Porto. Até havia mais jogadores portistas (7) do que sportinguistas (6) mas foi de Alvalade que chegaram os principais protagonistas, sobretudo no ataque: Martim Costa e Francisco Costa (o melhor jovem do Mundial) sempre atrevidos e eficazes, mas também com grande contribuição de Salvador Salvador e Pedro Portela, além de algumas participações de Diogo Branquinho e de João Gomes – todos do Sporting.
Aqui voltamos à não-surpresa: como já tínhamos partilhado aqui no ZAP, o andebol do Sporting tem sido uma “super-equipa” nesta temporada.
E, voltando à confiança de António Areia para as próximas competições, verificamos que metade deste plantel é sub-23, tem 23 anos ou menos. Ficaremos atentos.
Para já, o próximo compromisso será já no próximo mês: em Março há dois jogos contra a Polónia, na qualificação para a fase final do Europeu 2026.