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“Novo Concorde” voou mais rápido que o som. Companhias aéreas já o encomendaram

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Marco histórico sobre o deserto californiano. Boom atingiu 1.358 km/h e promete chegar aos 2.335 km/h com 55 passageiros no próximo supersónico Overture. Grandes grandes companhias aéreas querem-no e já encomendaram.

Fez-se história na aviação comercial esta terça-feira. O protótipo do XB-1, da ‘jovem’ Boom Supersonic, tornou-se o primeiro avião de iniciativa privada a voar mais rápido do que o som.

Atingindo velocidades de Mach 1,122 (uns impressionantes 1.358 quilómetros por hora) sobre o deserto da Califórnia, o XB-1 de 19 metros ultrapassou a barreira do som três vezes, antes de regressar em segurança ao Porto Aéreo e Espacial de Mojave.

A proeza supersónica foi atingida com o antigo aviador da Marinha dos EUA, Tristan “Geppetto” Brandenburg, no lugar de piloto.

“Um pequeno grupo de engenheiros talentosos e dedicados conseguiu o que anteriormente exigia governos e milhares de milhões de dólares”, escreveu, no X, Blake Scholl, o fundador e CEO da Boom Supersonic, criada em 2014 com um objetivo em mente: trazer de volta as viagens supersónicas comerciais.

O voo de teste desta terça-feira foi o resultado de 11 voos bem sucedidos efetuados desde março do ano passado e validou tecnologias-chave como compósitos de fibra de carbono, controlo digital de estabilidade e entradas de ar supersónicas, explica o editor espacial sénior no Ars Technica.

Trampolim para o (ainda mais rápido) Overture

Apesar do recorde, o XB-1 é apresentado pela empresa como um demonstrador, com apenas um terço do tamanho do seu próximo avião supersónico, o Overture.

Concebido para voar a Mach 1,7 com uma velocidade máxima de Mach 2,2, o Overture atingirá os 2.335 km/h e terá capacidade para acomodar 55 passageiros, uma velocidade que permitiria fazer Nova Iorque-Londres em 3 horas e 15 minutos, menos 3 horas e 45 minutos do que um voo numa aeronave em que voamos atualmente. Mas os bilhetes sairiam caros: cerca de 2.400 euros por viagem, de acordo com os promotores do projeto.

A empresa planeia equipar o Overture com um sistema de propulsão próprio, Symphony, desenvolvido em colaboração com a Florida Turbine Technologies, a GE Additive e a StandardAero.

O foco da Boom Supersonic está mesmo na produção em grande escala do Overture, a avaliar pela megafábrica com o seu nome que já construiu em Greensboro, na Carolina do Norte, e que produzirá até 66 aeronaves por ano.

O plano é que o Overture esteja em funcionamento ainda antes do final da década, transportando 64 a 80 passageiros a Mach 1,7 — o dobro da velocidade dos atuais aviões subsónicos.

O futuro das viagens rápidas (e um passado sombrio)

O interesse nas viagens ultrarápidas é cada vez mais forte, e a Boom já terá assegurado 130 encomendas e pré-encomendas do Overture de grandes companhias aéreas, incluindo a American Airlines, a United Airlines e a Japan Airlines.

A Boom é uma de muitas empresas que estão, com melhores materiais e aerodinâmica mais avançada, a tentar ‘ressuscitar’ as viagens supersónicas. A proeza de terça-feira coloca-a na vanguarda na sucessão do famoso Concorde, supersónico britânico-francês que fazia rotas entre Nova Iorque e Londres ou Paris, e cujo fracasso após um acidente trágico levou ao abandono do investimento nas viagens rápidas.

Em julho de 2000, um Concorde da Air France despenhou-se pouco depois da descolagem, matando os 109 passageiros a bordo e ainda quatro pessoas em terra. Podia atingir velocidades maiores do que as atingidas esta terça-feira pela Boom: ia até aos cerca de Mach 2 (2.179 km/h) e transportava cerca de 100 passageiros.

Problemas de manutenção, elevados custos operacionais e o impacto dos ataques de 11 de setembro nas viagens aéreas levaram a British Airways e a Air France a ‘reformar’ o Concorde, em 2003.

Mas “só podemos viver no futuro se tivermos a coragem de o construir”, sublinhou o CEO da Boom Supersonic. “Este jato possui realmente muitas das tecnologias que nos permitirão avançar e construir um avião supersónico comercial disponível para as massas”, sublinhou enquanto via o XB-1 no ar.

A Boom espera iniciar as entregas antes do final da década, altura em que já poderemos sonhar mais alto com uma nova era de viagens aéreas comerciais de alta velocidade.

Tomás Guimarães, ZAP //

1 Comment

  1. Falta saber como vão actuar em função do estrondo provocado pela passagem da barreira do som. E se haverá procura suficiente para rentabilizar o investimento (os preços não serão atractivos, acho eu).

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