Nicolae Ceaușescu era presidente da Roménia há mais de 20 anos. Ia fugir do país, não foi a tempo. O regime comunista estava mesmo em queda.
Há 35 anos, a Roménia estava a iniciar o seu Ano Novo de uma forma (muito) diferente dos anos anteriores. Das outras décadas anteriores, até.
Praticamente desde o fim da II Guerra Mundial, a Roménia passou a ser um regime comunista. Miguel I viria a ser o último rei da Roménia; abdicou em 1947 e aí a Roménia até mudou de nome: República Popular da Roménia (até 1965) e República Socialista da Roménia a partir daí, até 1989.
Saltamos exactamente para 1989, mais precisamente para os últimos dias desse ano histórico na Europa.
No dia 21 de Dezembro, quase quase no Natal, o presidente Nicolae Ceaușescu apareceu para falar à multidão:
A partir da varanda do Comité Central do Partido Comunista, diante de milhares de pessoas com bandeiras da Roménia, seria mais um discurso anual, para anunciar alegadas boas novidades para a qualidade de vida dos romenos – na altura foi a subida do salário mínimo – e para transmitir uma ideia de apoio unânime ao regime.
Não foi isso que aconteceu, naquela quinta-feira.
Logo no início do seu discurso, quando ainda estava a agradecer aos organizadores do evento, Nicolae Ceaușescu apercebeu-se de que algo se estava a passar no meio da multidão. Ouviam-se gritos, estava criada uma grande confusão, à sua direita.
Parou de falar.
“Alguém está a disparar!“, avisou logo a sua esposa, Elena Ceaușescu.
Os seguranças diziam ao presidente para ele deixar a varanda, para entrar imediatamente no escritório.
Seguiram-se momentos de aflição, de gritos do próprio presidente e da sua esposa. Ele, claramente surpreendido e sem perceber o que estava a acontecer, a gritar ao microfone: “Então? Camaradas! Estejam quietos!” e ela a exigir silêncio.
Mas estava complicado falar. Os ânimos estavam mesmo exaltados. O canal televisivo romeno, obviamente, não filmou os tumultos.
Realmente, algo se estava a passar: uns relatam que bastou alguém dizer “Mentiroso!” para outros seguirem e repetirem a palavra; outros dizem que um grupo começou a gritar “Rua, Ceausescu!”; outros terão gritado “Timișoara”, a cidade que tinha sido palco de um protesto contra o regime, apenas cinco dias antes.
E começaram cenas de violência, uma carga policial muito forte sobre os manifestantes. Terão morrido centenas de pessoas naquele dia, naquela grande praça em Bucareste.
Revolução Romena
Aquela praça chama-se agora… Praça da Revolução.
É que estava mesmo a decorrer a Revolução Romena. Nicolae Ceaușescu não sabia, mas aquele estava a ser o último discurso.
A revolta em Timișoara, que até começara por causa de um padre húngaro deportado pelo regime (e que contou até com o apoio de militares e oficiais), tinha sido apenas o primeiro sinal – sangrento, sim.
O povo estava mesmo contra Nicolae Ceaușescu.
E com motivos para isso: a Roménia era um país muito pobre, os romenos tinham frio e fome diariamente, a comida era racionada através de senhas, o regime era muito repressivo, não havia sindicatos ou imprensa livres.
Em poucos dias, tudo mudou: protesto em Timișoara no dia 16 de Dezembro, este momento marcante no discurso do presidente no dia 21 e a morte do presidente no dia 25.
Sim, no dia de Natal.
Depois do tal discurso, e depois de serem informados do que estava a acontecer, do que era a realidade, Nicolae e Elena Ceaușescu tentaram fugir imediatamente do país. Mas já não foram a tempo.
Enquanto o helicóptero com o casal partia do telhado, os manifestantes, o povo, passaram a controlar o edifício do Comité Central do Partido Comunista da Roménia.
Não se sabe muito bem porquê, o helicóptero teve de aterrar a meio da viagem, o casal pediu ajuda, conseguiu boleia… mas foi logo a seguir capturado pela recente Guarda Revolucionária.
“Julgamento”
No julgamento, Nicolae e Elena foram acusados de crimes como genocídio e destruição da economia. O presidente garantia que não tinha deixado os romenos com fome repetia a palavra “traição”. Elena dizia que aqueles militares deveriam ter “vergonha” porque ela tinha cuidado deles “como uma mãe”.
“Ninguém vai ajudar-vos agora”, reagiu um dos militares.
Foram 90 minutos de um julgamento invulgar, onde já se sabia o desfecho.
Ainda houve advogados a sugerir que o casal alegasse problemas mentais, para escapar à pena de morte.
Recusaram. Foram fuzilados. Nicolae e Elena.
“Se nos quiserem matar, matem-nos aos dois. Temos o direito de morrer juntos. Juntos”, repetiu Elena Ceaușescu.
Minutos depois, os tiros.
Nicolae Ceaușescu, presidente/ditador há 22 anos e o rosto de um regime de quase 50 anos, foi morto a tiro. Com uma câmara a filmar. No dia 25 de Dezembro de 1989.
O regime comunista caiu mesmo.
Ao contrário de República Democrática da Alemanha, Polónia, Checoslováquia ou Hungria, a Roménia foi o único país do Bloco de Leste a derrubar de forma violenta o regime comunista.
Para a história, fica aquela imagem de um Nicolae Ceaușescu surpreendido, desorientado, no seu último discurso.
Foi uma imagem icónica da queda de um regime histórico.
Será que é o que vai acontecer ao Putin, Lavrov e Peskow, por traição à Pátria Mãe Russa? Pode acontecer!