Os humanos estão quase a ter visão de raios X. A ideia é ainda pior do que parece?

De uma forma muito mais rápida do que a evolução, a tecnologia pode vir a conseguir dotar-nos de sentidos extra — como a visão de raios X, ou a audição em ondas sonoras até agora inaudíveis aos humanos. Mas pode não ser uma grande ideia, diz um cientista.

Comecemos por um facto curioso: já temos mais de cinco sentidos — e não estamos a falar do místico “sexto sentido”, ou intuição.

Para além do tato, paladar, visão, som e cheiro, temos o sentido da dor (nocicepção, ou algesia), o sentido do equilíbrio (equilibriocepção) e o sentido do posicionamento do corpo (propriocepção).

Mas, será que podemos desenvolver ainda mais sentidos?

O autor e cientista informático Peter Bentley, investigador da University College London, responde a esta questão num artigo na BBC Science Focus.

A evolução move-se a um ritmo tão lento que podem passar-se milhões de anos até desenvolvermos um novo órgão sensorial, assumindo que surge a necessidade de o termos.

No entanto, a tecnologia poderia fornecer-nos sentidos extra muito mais rapidamente do que a evolução, e a forma como as melhorias artificiais poderiam ser adicionadas aos nossos corpos para o conseguir é um tópico popular da ficção científica.

Mas, da mesma forma, já estamos a utilizar a tecnologia para aumentar os nossos sentidos. Os microscópios, por exemplo, permitem-nos ver objetos muito pequenos, enquanto os telescópios tornam visíveis objetos muito distantes.

Depois, há os raios X, os exames de tomografia por emissão de positrões (PET) e outras técnicas de imagiologia médica que nos permitem ver o interior do nosso corpo.

À medida que as capacidades dos auscultadores de realidade virtual e aumentada melhoram, poderá ser possível incorporar este tipo de tecnologia em dispositivos portáteis, tornando-os mais parecidos com uma extensão de nós próprios.

Mas poderá esta tecnologia alguma vez tornar-se parte de nós? Potencialmente, e mais uma vez, já existem precedentes para tal.

Desenvolvidos para melhorar a visão de pessoas com deficiências visuais, os implantes de retina são pequenos chips sensíveis à luz incorporados na retina do olho. Estimulam as restantes células sensíveis à luz para restaurar um certo nível de visão, sendo que, nalguns casos, a visão cromática degradada é restaurada.

No futuro, poderá ser possível ter implantes de retina que sejam sensíveis a mais do que apenas a parte do espetro eletromagnético que é visível para os seres humanos. Em teoria, é possível, com estes implantes que os humanos, consigam ver até às gamas do infravermelho ou do ultravioleta — ou mesmo mais além.

O mesmo princípio aplica-se aos implantes de cóclea, que foram desenvolvidos para restaurar a audição de pessoas com deficiências auditivas, que poderiam um dia dotar-nos de audição de ondas sonoras até agora inaudíveis aos humanos.

Embora esses dispositivos existam, ainda não estão nem de longe tão avançados, mas um dia poderão estar. Mas a questão fundamental não é “se isto pode acontecer”, diz Peter Bentley. A verdadeira pergunta que nos devemos colocar é: deve acontecer?

Há já casos de pacientes com implantes de retina que se encontraram subitamente a usar tecnologia obsoleta, que já não é suportada. Quando a empresa que fez os nossos olhos vai à falência, o que é que fazemos?

Ou quando a tecnologia falha, como inevitavelmente acontece nalguns casos, o trabalho de reparação, substituição ou remoção causará danos? Assim, tenha cuidado com o que deseja, aconselha o investigador.

Naturalmente, as preocupações de Bentley poderiam aplicar-se a quase todas as novas tecnologias… enquanto são pioneiras. Foi o caso, por exemplo, dos primeiros pacemakers, que atualmente ajudam o coração de milhares de pessoas a bater  — sem falhar.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.