Madrid acolheu a primeira manifestação de hologramas da história. Um protesto sui generis realizado em frente ao Congresso dos Deputados de Espanha contra a chamada Lei Mordaça que muitos espanhóis consideram ser o regresso aos velhos tempos da censura.
Milhares de hologramas de pessoas de todo o mundo manifestaram-se na sexta-feira, na Praça das Cortes, em Madrid, frente ao Congresso dos Deputados espanhóis. Uma forma original de contornar uma das normas de mais contestação na nova Lei da Protecção de Segurança do Cidadão, mais conhecida como a Lei Mordaça, que entrará em vigor a 1 de Julho próximo.
Esta nova emenda ao Código Penal e à Lei Anti-Terrorismo de Espanha impede os protestos em frente ao Parlamento, para os quais estão previstas multas até 30 mil euros, bem como as assembleias populares em espaços públicos, determinando também que as manifestações têm que ser convocadas previamente.
A lei tem sido fortemente contestada e um grupo de cidadãos criou mesmo a Plataforma Cidadã Não Somos Delito que visa lutar contra a sua aplicação. Foi deste grupo que partiu a iniciativa da manifestação de hologramas.
A Plataforma criou a página www.hologramasporlalibertad.org, convidando as pessoas a participarem no protesto deixando uma mensagem, uma gravação de voz ou convertendo-se num holograma gravado em vídeo.
Mais de 18 mil mensagens já surgiram no site e na sexta-feira, num ecrã colocado na Praça em frente ao Congresso dos Deputados, foram projectadas imagens de hologramas de pessoas de todo o mundo empunhando cartazes com lemas como “Penso, logo sou delito” e “Tanto lhes faz que vivas na rua, mas não querem que te expresses na rua“.
“Com a aprovação da Lei Mordaça, não poderás manifestar-te em frente ao Congresso dos Deputados, não poderás fazer uma Assembleia em espaços públicos sem perigo de que te multem, não poderás participar numa manifestação sem aviso prévio. Em definitivo, se és uma pessoa não podes expressar-te em liberdade, só o podes fazer se te converteres em holograma”, salienta a Plataforma num vídeo divulgado no Youtube.
A porta-voz da Plataforma, Alba Villanueva, salienta que a manifestação de hologramas teve como objectivo “narrar um futuro surrealista no qual, para manifestarmo-nos, teremos que nos descarnar e convertermo-nos numa sociedade fictícia, em formas de luz a três dimensões, e denunciar que as pessoas não podem expressar-se livremente na rua”, conforme declarações divulgadas pelo site Europapress.es.
No fim desta histórica manifestação, leu-se um documento onde se denuncia que a Lei Mordaça significa “um golpe terrível ao Estado Social e Democrático de direito” e “um grave atentado contra os direitos próprios de uma democracia como a liberdade de expressão e a liberdade de reunião pacífica”.
SV, ZAP