Segundo os cientistas, os padeiros já faziam foccacia há 9 mil anos

Taranto et al / Scientific Reports

Os autores do estudo criaram réplicas de “tabuleiros de descasque” e produziram a sua versão da foccacia neolítica

Aparentemente, a focaccia não foi inventada em Itália. Um novo estudo sugere que as comunidades neolíticas que viviam no Médio Oriente experimentaram receitas e cozeram grandes pães planos entre 7000 e 5000 a.C.

A focaccia, com a sua crosta escamosa e o seu rico sabor a azeite, é um alimento básico muito apreciado – mas até que ponto remonta a história deste delicioso pão?

Embora os especialistas saibam que este tipo de pão achatado e macio, em geral coberto com sal grosso, azeite e alecrim, era fabricado na Roma antiga, uma nova pesquisa sugere que as suas origens podem ser ainda mais antigas.

De acordo com o estudo, cujos resultados foram apresentados num artigo recentemente publicado na revista Scientific Reports, as comunidades neolíticas já produziam o seu próprio pão tipo focaccia entre 7.000 e 5.000 a.C.

“O estudo de comportamentos alimentares passados pode fornecer informações valiosas sobre os aspetos sociais e culturais de populações antigas”, explica Sergio Taranto, arqueólogo da Universitat Autònoma de Barcelona e primeiro autor do estudo, ao ZME Science.

“Isto é particularmente útil para estudar comunidades pré-históricas sobre as quais temos um conhecimento limitado devido à falta de registos escritos”, detalha o investigador.

Para saber mais sobre as primeiras práticas de cozedura e hábitos alimentares, os investigadores estudaram recipientes de barro de forma oval, conhecidos como “tabuleiros de descasque“, conta a Smithsonian.

Estes tabuleiros foram encontrados em locais do Crescente Fértil, no Médio Oriente, incluindo Mezraa Teleilat, Akarçay Tepe e Tell Sabi Abyad. Depois de analisar os resíduos fossilizados colados aos artefactos, a equipa descobriu que o pão era feito misturando trigo ou cevada com água.

Com base na forma como os tabuleiros se degradaram, os investigadores pensam que os pães eram cozidos durante cerca de duas horas — mais tempo do que os 20 a 30 minutos recomendados atualmente — num forno abobadado a uma temperatura inicial escaldante de 420°C.

Os investigadores identificaram também vestígios de gordura animal e temperos à base de plantas. “A variação de materiais orgânicos encontrados nos fragmentos sugere que as comunidades neolíticas experimentaram várias receitas“, diz Taranto.

Os tabuleiros de descasque são feitos de barro grosso. Têm paredes baixas e uma longa base oval com uma série de ranhuras no interior. Os cientistas tinham anteriormente criado réplicas destes tabuleiros para aprenderem mais sobre a forma como eram utilizados, e pensam que as ranhuras facilitavam a remoção do pão dos tabuleiros para que não se colasse à frigideira.

“O novo estudo confirma que as impressões no interior destes tabuleiros se destinavam a facilitar a remoção da focaccia do recipiente depois de cozinhado — na prática, uma tecnologia antiaderente antiga, semelhante às nossas frigideiras modernas”, afirma Taranto.

Alguns dos tabuleiros maiores do estudo podiam produzir pães que pesavam quase cerca de 3 kg, sugerindo que os padeiros fariam pão para muitas pessoas saborearem juntas.

“O nosso estudo oferece uma imagem vivida das comunidades que utilizavam os cereais que cultivavam para preparar pães e ‘focaccias’ enriquecidos com vários ingredientes e consumidos em grupo”, afirma Taranto num comunicado publicado no EurekAlert.

“A utilização dos tabuleiros de descasque que identificámos leva-nos a considerar que esta tradição culinária do Neolítico tardio se desenvolveu durante cerca de seis séculos e foi praticada numa vasta área do Próximo Oriente“, conclui Taranto.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.