Esta nova tecnologia elimina aproximadamente 80% das injeções hormonais necessárias na fertilização in vitro convencional.
A Gameto, uma empresa de biotecnologia que se dedica à criação de opções de tratamento de saúde reprodutiva, anunciou o primeiro nascimento humano usando Fertilo, uma tecnologia de célula de suporte ovariana (OSC) que amadurece óvulos fora do corpo.
O parto foi realizado na Clínica Santa Isabel, em Lima, no Peru.
“Estamos muito felizes por celebrar o primeiro nascimento vivo do mundo concebido usando Fertilo”, disse Dina Radenkovic, CEO e cofundadora da Gameto, citada pelo New Atlas.
“Ao superar os principais desafios da fertilização in vitro (FIV) convencional, como os longos ciclos de tratamento, efeitos colaterais significativos e a tensão emocional e física, a Fertilo fornece uma solução mais rápida, segura e acessível para as famílias. Este marco marca uma viragem na saúde reprodutiva e destaca a primeira aplicação da tecnologia iPSC [células estaminais pluripotentes induzidas] na FIV e o imenso potencial da nossa tecnologia”, completou.
Na fertilização in vitro convencional, óvulos maduros são recolhidos dos ovários e fertilizados por esperma em laboratório. Depois de passar cerca de cinco dias num ambiente de laboratório protegido, o óvulo fertilizado (embrião) é transferido para o útero na esperança de que a gravidez aconteça “naturalmente” a partir daí.
Antes da recolha dos óvulos, os ovários são estimulados a produzir mais óvulos do que o normal através da administração de uma ou duas injeções hormonais por dia, com tratamentos a chegarem às cerca de 90 injeções por ciclo. Um ciclo completo de FIV demora cerca de duas a três semanas.
Entre as maiores desvantagens deste tratamento está o facto de não garantir o nascimento de um bebé. Há ainda o risco de gestações múltiplas e o facto de as injeções hormonais poderem causar a síndrome de hiperestimulação ovariana, em que os ovários ficam inchados e doloridos.
Além disso, acresce ainda o stress físico e emocional, associado a exames regulares, injeções, o custo e a dúvida constante.
O procedimento Fertilo difere da FIV tradicional porque usa células de suporte ovariano (OSCs) derivadas de células estaminais pluripotentes induzidas humanas (iPSCs) e co-cultiva-as com um óvulo imaturo para imitar o processo natural de maturação do óvulo no laboratório.
Um estudo do ano passado mostrou que este método melhorou significativamente a maturação do óvulo e a formação do embrião. A própria Gameto refere que este procedimento evita 80% das injeções hormonais e reduz a duração de um ciclo de tratamento para três dias.
“A capacidade de amadurecer óvulos fora do corpo com intervenção hormonal mínima reduz significativamente riscos como a síndrome de hiperestimulação ovariana e alivia os efeitos colaterais causados pelas altas doses de hormonas”, disse Luis Guzmán, líder da Pranor Laboratories.
A mãe do primeiro “bebé Fertilo” não poderia estar mais feliz. “Com menos injeções e um processo de recuperação de óvulos mais suave e menos invasivo, este processo deu-me esperança e segurança nesta fase. A abordagem inovadora da Fertilo tornou a experiência física mais fácil e também aliviou o fardo emocional. Sou profundamente grata à Pranor Clinic e à equipa da Gameto pelo seu cuidado e dedicação em tornar o meu sonho de ter uma família uma realidade”, reagiu.
A Gameto anunciou, recentemente, uma parceria com a rede de clínicas de fertilização in vitro IVFAustralia (IVFA), que tornará esta abordagem disponível para pacientes de todo o país. Isto significa que a Gameto tem autorização regulatória na Austrália, Japão, Argentina, Paraguai, México e Peru.
Os próximos poderão ser os Estados Unidos, com a empresa a preparar-se para levar a cabo os testes da Fase 3 neste país.