A refeição preferida dos americanos no dia da Ação de Graças não é de fácil acesso a todos. Nas áreas mais remotas do Alaska, os perus chegam pelo ar.
É o terceiro ano consecutivo em que Esther Keim voa em helicópteros e atira perus na altura do dia da Ação de Graças (“Thanksgiving”).
“Cresci no Alaska rural. Não há estradas, e a única forma possível de lá chegar é através de avião, mota de neve ou de barco, se se viver perto do rio”, explica num vídeo da ABC News a americana.
Quando era mais nova, um amigo da família lançava perus por via aérea para a sua família e para outras pessoas das redondezas durante as férias. Outras vezes, o piloto entregava jornais, por vezes com um pacote de pastilhas elásticas para Keim, contou à AP.
Sabe também que, na região, há habitantes com poucas possibilidades, e o seu jantar no feriado que os americanos celebram com banquetes não seria mais do que comida racionada. “Diziam-me que um esquilo para o jantar não dava para três pessoas”, recorda Keim. “Naquele momento, pensei… ‘Vou atirar-lhes um peru pelo ar‘.”
É assim que Keim fornece os perus para a população, que não tem como aceder à comida a não ser através desse meio. Este ano, está a entregar 32 perus congelados a pessoas que vivem durante todo o ano em cabanas em zonas onde não há estradas.
Todos os perus, exceto dois, tinham sido entregues até terça-feira, tendo os planos de entrega das duas últimas aves sido frustrados pelo mau tempo que se fez sentir na região.
Dave e Christina Luce, que vivem no rio Yentna, a cerca de 72 quilómetros a noroeste de Anchorage, para chegarem à cidade mais próxima têm de fazer uma viagem de 90 minutos de mota de neve, coisa que fazem cerca de uma vez por mês.
O peru de 5,44 quilos que Keim entregou será mais do que suficiente para eles e alguns vizinhos, contam. “É um ótimo Dia de Ação de Graças”, disse Dave Luce. “Ela tem sido muito querida e tem sido uma boa amiga.”
Keim faz 30 a 40 entregas de perus por ano, voando 161 quilómetros da sua base a norte de Anchorage em direção ao sopé de Denali, num helicóptero pequeno que construiu com as suas próprias mãos, com ajuda do pai.
Compra cerca de 20 perus de cada vez, com a ajuda de donativos, normalmente de pessoas que a contactam através do Facebook. Embrulha-os em sacos de lixo de plástico e deixa-os na bagageira da sua carrinha até conseguir arranjar um voo.
“Felizmente, no Alasca faz frio, por isso não tenho de me preocupar com as arcas congeladoras“, diz. “No que diz respeito à precisão e a acertar no alvo, não tenho a melhor pontaria”, ri-se. “Já melhorei, mas nunca acertei numa casa, num edifício, numa pessoa ou num cão.”
E já existem ideias para os próximos anos: Keim quer criar uma organização sem fins lucrativos, para poder melhorar o seu serviço de entregas. “Há tantas crianças nas aldeias”, disse. “Seria fixe acrescentar talvez um animal de peluche ou algo que elas pudessem abraçar.”