Há um cataclismo imediato que pode estar a vir na nossa direção à velocidade da luz: os cosmólogos chamam-lhe “big slurp” e pode acontecer agora. Até lá, “realidades cósmicas ocultas” nos protejam.
O futuro distante do Universo é, desde sempre, objeto de debates intensos entre os gurus da cosmologia.
Algumas teorias sugerem que o Universo pode acabar de uma de três formas: colapsando sob o seu próprio peso (a grande crise), expandindo-se indefinidamente até atingir um vazio congelante (o grande congelamento), ou sendo rasgado por uma energia misteriosa (o grande rasgo).
No entanto, existe uma ameaça potencial mais imediata, conhecida como “big slurp”.
O “big slurp” descreve um cenário catastrófico desencadeado por uma flutuação quântica que cria uma bolha devastadora – capaz de destruir, à velocidade da luz, tudo que aparece no seu caminho.
Um sopro e tudo acaba
John Ellis, do King’s College de Londres, explicou à New Scientist que o “big slurp” pode ocorrer em qualquer altura, mesmo neste preciso momento.
Este cenário sugere que a nossa mera existência pode dever-se a algum tipo de “física exótica” que nos protege.
O campo de Higgs, associado ao bosão de Higgs e responsável por dar massa às partículas elementares, desempenha um papel central neste cenário. Descobriu-se que o campo de Higgs não é estável, encontrando-se numa condição conhecida como metaestável. Esta instabilidade significa que o campo pode eventualmente atingir um estado de energia mais baixo, despoletando uma transição de fase catastrófica.
Uma transição de fase no campo de Higgs é comparável ao processo de ebulição da água, em que se formam e expandem bolhas de gás. No caso do Universo, estas bolhas destrutivas poderiam redefinir as leis da física no seu interior e expandir-se à velocidade da luz – capazes de dar cabo de tudo tudo.
O aparecimento destas bolhas é aleatório e não pode ser previsto com exatidão – no entanto, podemos estimar probabilidades.
Para além disso, a estabilidade do campo de Higgs é influenciada por outras partículas: Os bósons tendem a estabilizar o campo, enquanto os férmions, como os quarks, aumentam o risco de uma transição de fase.
Investigações recentes indicam que o quark top – a partícula mais pesada que se conhece – desempenha um papel significativo na instabilidade do campo.
Medições de partículas no Grande Colisor de Hádrons (LHC) do CERN, detalhadas pela New Scientist, apontaram para a metaestabilidade do campo de Higgs.
Esta observação reforça a ideia de que o Universo está condenado, embora o momento exato do “grande golpe” permaneça incerto, podendo ser daqui a milhares de milhões de anos, como para a semana, como amanhã, como agora.
Papel decisivo dos buracos negros
Os buracos negros, especialmente os mais pequenos e antigos buracos negros primordiais, podem desempenhar um papel crucial neste processo, já que têm uma curvatura mais intensa do espaço-tempo, o que pode induzir uma transição de fase no campo de Higgs. À medida que estes buracos negros se evaporam, as hipóteses de uma transição de fase catastrófica aumentam.
Como escreve a New Scientist, neste momento, a investigação sobre a gravidade quântica está, sobretudo, a tentar compreender como a gravidade e o campo de Higgs interagem, o que poderá fornecer pistas cruciais sobre a estabilidade do Universo.