Uma elevada concentração de carbono no núcleo interno da Terra pode explicar um mistério de longa data sobre a forma como a parte mais profunda do planeta congelou — tendo dado início ao campo magnético que protege a vida à superfície.
Como escreve a New Scietinst, o núcleo interno da Terra é um paradoxo para os geofísicos: começou por se formar como uma enorme bola líquida de ferro, tendo depois começado a solidificar nos últimos mil milhões de anos.
Para que esse processo de congelação se iniciasse num objeto de ferro puro, teria de ter arrefecido pelo menos 427ºC nesse período de tempo.
No entanto, uma queda de temperatura tão grande e relativamente rápida é impossível, dada a dimensão do núcleo interno.
Este dilema, conhecido como o “paradoxo da nucleação do núcleo interno”, intriga os geofísicos desde há décadas. Até que agora um estudo publicado no EarthArXiv diz ter vindo resolvê-lo.
A equipa de investigação propôs uma solução utilizando simulações mais realistas da composição do núcleo, que não é feito apenas de ferro puro. Além de ferro e níquel, cerca de 10% da sua composição inclui elementos leves como silício, enxofre, oxigénio e, possivelmente, carbono.
Como explica a New Scientist, os investigadores usaram um supercomputador para modelar as interações entre átomos de ferro e carbono sob condições extremas de pressão e temperatura, típicas do núcleo interno.
Quando o carbono representava cerca de 15% da mistura, a formação de aglomerados sólidos ocorreu com apenas -23ºC de arrefecimento – uma redução plausível para o período de mil milhões de anos.
A grande conclusão deste estudo – e possível resposta para o mistério – é que o núcleo interno pode conter uma elevada concentração de carbono.
O líder da investigação, Alfred Wilson, disse à New Scientist que o arrefecimento proporcionado pelo carbono é apenas “suficientemente próximo”.
No entanto, o investigador da Universidade de Leeds, no Reino Unido, acrescenta que uma simulação mais complexa – incluindo interações entre o ferro, o carbono e o oxigénio – pode revelar um cenário em que o núcleo interno pode congelar com uma necessidade de arrefecimento ainda menor, construindo uma visão mais detalhada da composição do núcleo.
Esse conhecimento poderá, por sua vez, melhorar “a compreensão global da forma como o planeta evoluiu termoquimicamente desde a sua formação”, remata.