Revolução em Moçambique? Teme-se “banho de sangue” nos protestos após as eleições

Luisa Nhantumbo / EPA

Polícia de Moçambique e manifestante durante protestos contra o resultado das eleições de Outubro de 2024.

Polícia de Moçambique e manifestante durante protestos contra o resultado das eleições de Outubro de 2024.

Vivem-se momentos de alta tensão em Moçambique, com protestos a espalharem-se pelas ruas contra a alegada “fraude” nas eleições de Outubro, que elegeram Daniel Chapo como Presidente da República. 

A polícia dispersou, nesta quinta-feira, centenas de pessoas com gás lacrimogéneo quando tentavam sair do bairro de Maxaquene, nos arredores de Maputo, em direcção ao centro da capital moçambicana para se manifestarem.

A primeira carga policial levou à dispersão dos manifestantes, mas pouco depois, estes voltaram a juntar-se e ripostaram com pedras e garrafas na direcção da polícia.

Nas principais ruas de Maputo e nos bairros suburbanos, sente-se uma forte presença da polícia e de militares, com viaturas blindadas e elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR).

Há também fortes condicionalismos no acesso à Internet, nomeadamente às redes sociais.

Mas na rede social X é possível encontrar vários vídeos dos protestos, mostrando, nomeadamente, a polícia a disparar o que serão balas de borracha contra os manifestantes.

Espírito de “revolução” nas ruas

Nas ruas, sente-se o que alguns dizem ser um espírito de “revolução” que nasceu a 24 de Outubro, depois do anúncio da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, dando a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

A Frelimo está no poder desde 1975.

Na eleição para Presidente da República, Daniel Chapo venceu com 70,67% dos votos, segundo a CNE.

Contudo, os resultados são contestados pelo segundo candidato mais votado, Venâncio Mondlane, que somou 20,32% dos votos.

Mondlane não reconhece os resultados que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.

Teme-se “um banho de sangue”

Após protestos nas ruas que paralisaram o país, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias que ocorre desde 31 de Outubro. Há uma concentração planeada para esta quinta-feira em Maputo.

A Ordem dos Advogados de Moçambique alertou que “existem todos os condimentos” para que haja “um banho de sangue“. Por isso, apela a “um diálogo genuíno” para que isso não aconteça.

Nesta quinta-feira, cumpre-se o oitavo dia de paralisação e de manifestações em todo o país, com a generalidade a levar à intervenção da polícia.

Os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados. E haverá muitos que se estão a deslocar para Maputo, onde se espera uma concentração geral de protesto.

Vários detidos após pilhagens

Na capital de Moçambique, veem-se grandes colunas de fumo, sobretudo devido a pneus a arder em várias ruas, e ouvem-se constantemente disparos de balas reais e explosões de granadas.

Entretanto, já foram detidas várias pessoas durante as manifestações no centro de Maputo, na sequência de pilhagens a lojas num centro comercial.

Segundo um segurança do centro comercial localizado na Avenida Acordos de Lusaka, “mais de 100 invadiram e vandalizaram duas lojas”.

A polícia tentou depois recuperar material roubado, como televisores, telemóveis ou frigoríficos.

ZAP // Lusa

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