Malhão, Foi Deus, Mestre André e mais três músicas portuguesas no primeiro Cancioneiro da UE

Môsieur J. / Wikimedia

É publicado, esta terça-feira, o primeiro “Cancioneiro da União Europeia”, nove anos depois de ter começado a ser preparado. Este livro reúne 164 canções dos 27 Estados-membros – seis das quais são portuguesas.

O primeiro “Cancioneiro da União Europeia” vai ser, finalmente, publicado e inclui seis temas portugueses: “Amar pelos dois”; “Canção do Mar”; “Grândola, Vila Morena”; “Malhão, malhão”; “Foi Deus” e “A Loja do Mestre André”.

No livro, as canções são apresentadas em partitura para voz solo, com acordes, e as letras estão escritas nas 25 línguas originais, que abrangem três alfabetos, e têm tradução em inglês.

Na página do livro dedicada a cada canção há também um código QR, que permite ouvir a gravação original do tema em questão.

As 164 canções foram divididas em seis categorias – Liberdade e Paz, Amor, Natureza e Estações, Populares e Tradicionais, Fé e Espiritualidade e Canções Infantis – e Portugal está representado em todas elas.

Em 2018 estiveram a voto 60 canções portuguesas e as mais votadas, por 2666 pessoas, foram: “Amar pelos dois”, (Amor), “Canção do Mar” (Natureza e Estações), “Grândola, Vila Morena” (Liberdade e Paz), “Malhão, malhão” (Populares e Tradicionais), “Foi Deus” (Fé e Espiritualidade) e “A Loja do Mestre André” (Canções infantis).

“Amar Pelos Dois”, com letra e música de Luísa Sobral, interpretada por Salvador Sobral, foi a canção que deu a Portugal a primeira vitória no Festival Eurovisão da Canção, em 2017. Esta canção tem a peculiaridade de ainda nem sequer existir, quando o cancioneiro começou a ser preparado.

“Canção do Mar”, com letra de Frederico de Brito e música de Ferrer Trindade, foi apresentada pela primeira vez por Maria Odete Coutinho, no programa radiofónico “Os Companheiros da Alegria”, e gravada em 1953 por Carlos Fernando, acompanhado pelo Conjunto de Mário Simões.

O tema foi recriado várias vezes por outros artistas, como o brasileiro Agostinho dos Santos, a francesa Yvette Giraud.

Mais tarde, na década de 1990, Dulce Pontes, popularizou a sua versão, que entrou na banda sonora do filme “A Raiz do Medo” e foi genérico da série policial norte-americana “Southland”.

“Grândola, Vila Morena”, com letra e música de José Afonso (Zeca Afonso), incluída no álbum “Cantigas do Maio” (1971), é uma das canções que serviu de senha à Revolução de 25 de Abril de 1974.

Ao longo dos anos o tema teve várias versões, da banda chilena Aparcoa ao pianista Pascal Comelade, passando pela cantora brasileira Nara Leão, a fadista Amália Rodrigues e a norte-americana Liberation Music Orchestra, da pianista Carla Bley e do contrabaixista Charlie Haden.

“Grândola, Vila Morena”, para sempre associada à queda da ditadura portuguesa, surge entre as primeiras canções do cancioneiro, sob o tema Liberdade e Paz, a par de canções como “Le Chant des Partisans”, composta e interpretada por Anna Marly, referência da Resistência Francesa, e a tradicional italiana “Bella Ciao”, com origens no século XIX, que também se tornou símbolo da luta contra o fascismo, durante a II Guerra Mundial.

“Malhão, Malhão” – interpretada pela incontornável Amália Rodrigues – faz parte do cancioneiro popular da região do Douro Litoral.

E Amália outra vez. “Foi Deus”, com letra e música de Alberto Janes, é um fado celebrizado pela maior fadista de todos os tempos.

“A Loja do Mestre André” é uma música tradicional infantil.

Entre os temas de outros países que figuram no “Cancioneiro da União Europeia” estão “‘O sole mio”, de Itália, “Ave Maria” e “Au clair de la lune”, de França.

As 60 canções portuguesas que estiveram a votos tinham sido nomeadas por membros da comunidade musical portuguesa – em particular Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM), Associação Musical Lisboa Cantat, Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança, da Universidade Nova de Lisboa, e a Academia de Música de Lagos.

O “Cancioneiro da União Europeia” é um “projeto sem fins lucrativos lançado por uma organização dinamarquesa sem ligações monetárias à União Europeia”.

Além da Champions e da Eurovisão

“Há mais de 50 anos que nós, os cidadãos europeus, trocamos coisas físicas: carvão, peixe e outros produtos. O intercâmbio cultural, por outro lado, limitou-se até agora ao desporto – Liga dos Campeões – e a um único concurso de música – a Eurovisão. Sentimos que chegou a hora de criarmos um símbolo comum mais duradouro, um livro de canções”, lê-se no site do projeto.

O cancioneiro foi criado com a participação de mais de 100 organizações musicais e conservatórios de música, e através de votações públicas que mobilizaram mais de 87 mil cidadãos de toda a União Europeia.

O projeto “Cancioneiro da União Europeia” foi distinguido pelo Parlamento Europeu com o Prémio de Cidadania Europeia 2023.

ZAP // Lusa

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