ADN antigo de auroques revela mistérios do passado (e do presente) dos bovinos

Charles Hamilton Smith / Wikimedia Commons

Os auroques estão extintos há cerca de 400 anos, mas assemelham-se aos atuais bovinos

Os auroques são os antecessores do gado moderno. Foram extintos há 400 anos, mas deixaram um legado que é hoje um terço da biomassa de mamíferos do mundo.

Costumam ser vistos em pinturas no interior de cavernas, uma vez que serviam de alimento e fonte de leite aos povos antigos, que estavam tão acostumados à espécie que a retratavam como parte do quotidiano: os auroques vagueavam pela Europa, Ásia e África. Parecem-lhe familiares?

Agora, “através da sequenciação de ADN antigo, obtivemos uma visão pormenorizada da diversidade que outrora prosperou na natureza e melhorámos a nossa compreensão do gado doméstico”. Quem o explica é Conor Rossi, o autor principal de um estudo da Trinity College, na Irlanda, publicado na revista Nature.

“Os auroques foram extintos há cerca de 400 anos, o que deixou grande parte da sua história evolutiva um mistério“, agora mais perto de ser desvendado, explica à Sci Tech Daily.

Ainda que os fósseis de auroques na Europa datem de há 650 mil anos, (na altura em que as primeiras espécies de humanos apareceram no continente), “os animais dos extremos leste e oeste da Eurásia partilham uma ascendência comum muito mais recente, apontando para uma substituição há cerca de 100 mil anos, provavelmente por migrações de uma pátria do sul da Ásia”, explica o Sci Tech.

Se hoje olhasse para duas vacas, uma portuguesa e outra italiana, provavelmente não conseguiria identificar o sue país de origem. Mas há centenas de anos atrás, os auroques portugueses eram diferentes dos italianos.

Assim explica o coautor investigador de pós-doutoramento no Departamento de Biologia da Universidade de Copenhaga, Mikkel Sinding.

“Normalmente pensamos nos auroques europeus como uma forma ou tipo comum, mas as nossas análises sugerem que existiam três populações distintas de auroques na Europa — uma europeia ocidental, uma italiana e uma balcânica. Havia, portanto, uma maior diversidade nas formas selvagens do que alguma vez tínhamos imaginado“, contou o autor.

As alterações climáticas tiveram também o seu papel na genética dos auroques: os genomas europeus e do norte da Ásia separaram-se e divergiram no início da última idade do gelo, há cerca de 100 mil anos, e não se misturam até ao momento em que o mundo torna a aquecer. Para além disso, durante o período glaciar, a dimensão das populações era muito menor.

E os humanos tiveram ainda alguma culpa na queda da diversidade genética da espécie: caiu a pique desde que começaram a ser domesticados, na altura em que começaram a surgir os primeiros bovinos (como os conhecemos hoje), há cerca de 10 mil anos.

Dan Bradley, professor da Escola de Genética e Microbiologia da Trinity, explicou que, apesar disso, “a estreita base genética dos primeiros bovinos foi aumentada à medida que estes viajavam com os seus pastores para oeste, este e sul”.

É evidente que houve um acasalamento precoce e generalizado com touros auroques selvagens, deixando um legado das quatro ascendências separadas dos auroques pré-glaciais que persiste no gado doméstico atual”, concluiu.

CBP, ZAP //

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