Um dos animais mais importantes da história está a “ressuscitar” em Portugal

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Staffan Widstrand / Rewilding Europe

Um dos auroques do gado a ser criado pela Rewilding Europe.

Bovino pré-histórico desapareceu há quase 500 anos, mas está pouco a pouco a regressar ao Vale do Côa. Não só vem promover a biodiversidade, como pode ser um reforço valioso para o combate de incêndios.

Embora se camufle entre o gado comum das paisagens portuguesas, não o é.

O Programa Tauros, que procura “ressuscitar” o ancestral do gado doméstico através da reprodução dos parentes mais próximos dos auroques originais, está em marcha em Portugal às mãos da Rewilding Europe, uma organização sem fins lucrativos sediada nos Países Baixos, que, juntamente com a Dutch Taurus Foundation, criou um programa em 2013 para trazer o animal de volta à vida.

Já desde o século XIII reduzido a pequenos grupos dispersos na Europa, o auroque desapareceu em 1627, após a morte dos últimos espécimenes na Polónia.

Quando o exército sueco atacou a Polónia em 1655, devastou o reino e saqueou tudo o que pôde. Entre os bens pilhados estava um objeto muito valioso de Sigismundo III Vasa, rei da Polónia: um chifre ornamentado. Em vida, o chifre pertenceu ao último touro auroque.

“Os humanos na Europa têm partilhado a paisagem com auroques há milhares de anos. Houve sempre uma certa admiração em relação a estes animais. Eram até representados na arte paleolítica”, explica à BBC Pedro Prata, líder da equipa da Rewilding Portugal organização privada sem fins lucrativos que quer restaurar as dinâmicas ecológicas naturais ao longo do Vale do Côa.

E é precisamente neste vale que se encontra a maior concentração dessas gravuras paleolíticas ao ar livre do mundo, com idades compreendidas entre 30 mil a 10 mil anos, onde o auroque tem um lugar muito destacado.

O animal, que eventualmente desapareceu precisamente devido à caça, tinha cerca de 1,80 metros de ombro a ombro e mais de três metros de comprimento no caso dos machos, sendo assim muito maior do que o gado atual.

Os caçadores-coletores, viam-se “gregos” para caçar um auroque. Era preciso aprender a caçá-los, coletivamente, e é precisamente por os fazer suar que os autores das gravuras escolheram maioritariamente o auroque para decorar as suas paredes.

“O simbolismo está associado a esta dificuldade na caça”, diz Thierry Aubry, diretor científico da Fundação Côa Parque.

Um dos maiores desafios da equipa Rewilding Portugal, que quer ver este bovino de volta ao terreno, é o ecossistema. A paisagem atual, vítima da intervenção humana e das alterações climáticas, está muito diferente daquela em que os auroques passearam.

Os tauros são grandes transformadores do ecossistema, e não o fazem só no pasto, mas também quando dão fortes pontapés e arranham a vegetação, o que permite a criação de mais áreas abertas.

Trazer estes bovinos de volta é assim, também, um reforço para os bombeiros portugueses. “A prevenção dos incêndios pode passar pela introdução dos grandes bovinos porque estes reduzem a quantidade de combustível”, conclui Aubry.

https://www.youtube.com/watch?v=OMUI88MqKmY

Tomás Guimarães, ZAP //

6 Comments

  1. Uma medida que devia ser tomada rapidamente: retirar todo gado dos estábulos e mudá-los para pastar no campo. Existem atualmente tecnologias para fácil controlo do gado.

    Não só garante melhores condições de vida do animal, sendo uma grande bandeira de alguns ativistas e partidos políticos, como reduz o problema dos dejetos os quais são transferidos para uma extensão de terreno, o que favorece o solo.

    Ao mesmo tempo, regressa o sistema natural de limpeza do terreno, reduz a possibilidade de incêndio, reduz a necessidade de produção de ração, e na soma isto faria uma diferença positiva enorme para o ambiente e para o bem estar animal.

    Porquê não se toma já esta medida? Como sempre, interesses instalados… E não vejo aos ativistas do clima a lutarem por isso, antes pelo contrário, pedem o fim destes animais, quando são precisos para um ecossistema saudável.

  2. O Viriato e o D. Afonso Henriques, mais o grupo de seguidores de cada um … ia dar porrada pior que os cheganos com os montenegrinos.

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  3. O D. Afonso Henriques está farto de dar voltas no túmulo. Isto porque ele sabe que Portugal está agora a ser invadido pelos muçulmanos ou mouros e ninguém se importa

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  4. Sejamos honestos…. garantidamente o objetivo não será para ajudar os bombeiros!
    Isso é propaganda para angariar o apoio popular.
    Não será mais, por exemplo, para “oferecer” mais espetáculo nas touradas em Espanha?
    Imaginem uma tourada com um “touro” destes em Espanha?
    Casa cheia com certeza, sempre!
    Ou mesmo, mais carne.
    Quantos quilos de carne dá um “boi” destes?
    Ou mesmo uma questão de status para alguns.
    Este auroque seria tão raro no início, que custaria milhões, e faria a alegria a alguns milionários, onde não sabem onde gastar mais dinheiro.
    Quando chegasse efetivamente a vez de ajudar os bombeiros, como apregoa a notícia, já teria passado, talvez, um século.
    Estas notícias, de ressuscitar animais extintos, tem sempre, em primeiro lugar, o lado econômico, bizarro e de ostentação.
    Como a população em geral fica fascinada com estes feitos da ciência, vendem a “ressucitação” da bicharada para ajudar a população.
    O que é verdade, garanto, depois de ressuscitados, nem vê-los!
    Só alguns.

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