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Consulta custa 2 euros…por minuto. O tempo é precioso

 

100 euros (ou mais) por consulta. A psicologia “não é só conversa”. Há investimento, investigação, avaliações e materiais.

A psicologia não é o único “ramo” da saúde que apresenta consultas caras.

Valores de dezenas de euros, ou mesmo que ultrapassam os 100 euros por consulta, não são realistas para muitos portugueses.

E isto numa fase em que Portugal “acordou”, tal como outros países: a COVID-19 veio tirar algum do preconceito de que só vai a um psicólogo “quem é maluco” ou de que só vai a uma consulta “quem está muito mal”.

Ou seja, mais portugueses passaram a ir mais a consultórios de psicologia. Uma subida de 30% no número de consultas no sector privado, revela-nos Miguel Ricou, presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Mas há muitos que queriam ir, mas não vão. Por causa do preço.

Logo no primeiro ano da pandemia, a DECO Proteste recolheu tabelas de 244 clínicas e consultórios privados. A primeira consulta custa 60 euros na maioria dos casos, mas havia consultórios com 10 euros e outros com 100 euros como valor fixo para primeira consulta.

Já em 2024, encontramos consultórios com preços superiores. Em Porto, Aveiro ou Lisboa.

Contactámos vários, só o Núcleo Casa respondeu. Este espaço portuense tem consultas a 105 euros. São praticamente 2 euros por cada minuto que passa, numa consulta de 50/60 minutos.

Isto numa sessão que, pensará a maioria dos leitores, não se gasta quase nada (ou mesmo nada) em materiais. Material médico ou outros.

O que justifica este valor?

“O tempo é o valor mais precioso que um profissional tem“, começa por responder a coordenadora do espaço, Francisca Silva Ferreira.

Num esclarecimento enviado ao ZAP, Francisca salienta que pensar que não se gasta quase nada para uma consulta de psicologia “é de tamanha ignorância”.

O Núcleo Casa, por exemplo, utiliza materiais originais, por respeito aos autores, e de elevada qualidade. Também recorre nas avaliações de neurodesenvovlimento ao uso de testes formais.

Todo o nosso trabalho é além do tempo realizado em avaliações ou mesmo no espaço de consulta“, avisa.

O modelo transdisciplinar deste espaço “envolve muito trabalho indirecto na investigaçãoacção, aliado às universidades nacionais e internacionais, com profissionais que investem permanentemente na actualização da sua formação, bem como ao tempo de super e intervisão para discussão de casos e melhoria das práticas semanais em equipa”.

E, claro, é preciso pagar pelo imóvel – e o Núcleo Casa fica numa das zonas mais prestigiadas do Porto, na Foz do Douro.

O e-mail fecha com nova referência ao tempo: “Faço votos de que o tempo continue a ser o bem mais precioso que temos – é a única coisa que não conseguimos recuperar”.

“A psicologia é só conversa”?

Miguel Ricou até se ri quando ouve esta frase. “Essa ideia não faz sentido. A psicologia é uma intervenção relacional, como é evidente”.

Duas das condições essenciais para uma sessão de psicologia ter resultados positivos são experiência e formação adequada: “Têm que ter muita formação, muita supervisão e experiência também”.

“Tudo isto custa dinheiro. O investimento para um profissional desta área conseguir ser competente e capaz é bastante grande”, explicou Miguel.

“O grande custo está associado à responsabilidade da intervenção”, sublinha.

O presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses também destacou o tempo: “Noutras profissões, há intervenções que são muito valorizadas e que demoram pouco tempo. O psicólogo trabalha sempre com o mesmo tempo. Tem aquele tempo por dia e não o pode esticar, não consegue rentabilizar mais. É aquele valor, e dali não sai”.

Os materiais também fazem diferença, reforça: “Claro que há materiais. Logo à partida, a avaliação psicológica é um processo caro, bastante dispendioso. Todos os instrumentos de avaliação psicológica têm que ser pagos, comprados. Só podem ser vendidos a psicólogos. E em Portugal, num mercado pequeno, o instrumento é menos rentável”.

A investigação e a adaptação de instrumentos estrangeiros também são caras e envolvem muita gente, elucida o responsável da Ordem dos Psicólogos, que também cita relatórios e trabalho extra como contribuições para o preço da consulta.

Outros factores que justificam os valores mencionados são os impostos e custos do consultório. “Se fizermos as contas, as coisas depois não parecem assim tão altas assim”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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