Uma equipa de cientistas estudou o comportamento de grandes agrupamentos de estrelas que se cruzam e chocam entre si, tendo descoberto que as partículas de matéria escura se cruzam sem interagir entre si. A matéria escura é ainda mais escura do que parecia.
O estudo, desenvolvido por uma equipa de físicos da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, e da Universidade de Edimburgo, na Escócia, foi publicado na revista Science, e sugere que a matéria negra poderá deslizar pelo universo sem nunca desacelerar ou ser arrastada por outras partículas.
Este comportamento será causado pelo facto de as partículas de matéria negra nunca interagirem com nenhuma outra partícula – nem mesmo com outras partículas de matéria negra.
A matéria negra, substância invisível, que não interage com forças electromagnéticas (como a luz), com propriedades adivinhadas indirectamente, que compõe cerca de 84% do nosso universo, é actualmente um dos grandes mistérios da ciência.
Sem paralelo observável no nosso mundo material, diferentes teorias tentam explicar a matéria negra, mas nenhuma se impôs na comunidade científica.
Entretanto, com base no que sabemos do nosso Universo, as galáxias que o compõem deveriam estar, literalmente, a desfazer-se.
E a única razão para que tal não esteja a acontecer será precisamente a existência dessa matéria escura, que confere às galáxias a gravidade de que precisam para se manter em rotação sem se desfazerem.
Durante o estudo agora apresentado, os investigadores observaram clusters de galáxias, enormes agrupamentos de galáxias que se mantêm juntas, para analisar o comportamento da matéria negra durante as colisões entre as galáxias.
As galáxias estão sempre em colisões, por vezes recombinando-se umas com as outras, outras vezes simplesmente atravessando-se.
Os gases cósmicos no interior das galáxias desaceleram quando colidem com outros gases cósmicos, tornando-se gradualmente tão dispersos que deixam de colidir e interagir de todo.
“Sabemos como é que os gases e as estrelas reagem a estas colisões cósmicas, e sabemos onde é que eles reaparecem após as colisões”, diz David Harvey, astrofísico da Escola Politécnica Federal de Lausanne e autor principal do estudo.
“Comparar este comportamento com o da matéria negra pode ajudar-nos a perceber melhor o que é exactamente essa matéria“, acrescenta Harvey.
Após estudarem 72 colisões de galáxias, Harvey e os seus colegas descobriram que, ao contrário dos gases cósmicos, a matéria negra não desacelerava.
O resultado foi inesperado – principalmente tendo em atenção que a matéria negra enche uma boa parte do Universo.
A matéria negra teria que estar a colidir com outra matéria negra – mas aparentemente, as partículas cruzam-se sem interagir.
“Se batermos com a cabeça numa parede, as forças electromagnéticas da cabeça e da parede provocam uma colisão. Mas aparentemente isto não se passa com a matéria negra”, explicou à BBC o físico Richard Massey, outro dos autores do estudo.
Esta bizarra matéria, negra porque nem absorve nem reflecte a luz, apenas a desvia, é ainda mais escura do que parecia: não reage nem a si própria.
Mas como diria Galileu, e no entanto ela existe.
AJB, ZAP