Os investigadores suspeitam que o caderno de encargos e o programa de concurso terão sido elaborados por uma diretora da Accenture, em conluio com dois funcionários dirigentes da SCML.
O Ministério Público (MP) está a conduzir uma investigação sobre uma empresa com sede na Albânia, de propriedade de dois funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Bruno Ventura e Magda Lapa, avança o Público.
Estes funcionários ocupam, respetivamente, os cargos de subdiretor da Direcção de Sistemas e Tecnologias de Informação (DISTI) e diretora-geral do Departamento de Jogos. A empresa em questão, Red Sky, é especializada no desenvolvimento de software e foi criada em dezembro de 2022. A investigação surge no âmbito de um concurso público da SCML, que está sob suspeita de irregularidades.
O foco da investigação reside num concurso limitado lançado em 2016 pela SCML para a aquisição de uma nova plataforma para o contact center, concurso esse que foi adjudicado à consultora Accenture. De acordo com o MP, há suspeitas de que o caderno de encargos e o programa de concurso foram elaborados em colaboração entre uma diretora da Accenture e dois funcionários da SCML, Bruno Ventura e Marco Frade, com o objetivo de favorecer a consultora.
Francisco Pedrosa, que à época dirigia o departamento de Sistemas e Tecnologias de Informação da SCML, também é suspeito de ter dado instruções aos dois funcionários para beneficiarem a Accenture. Todos estes envolvidos têm em comum o facto de já terem trabalhado na consultora antes de assumirem cargos na SCML.
A Red Sky, propriedade de Ventura e Lapa, surgiu no contexto destas investigações, mas o MP ainda não esclareceu a sua relação direta com o concurso público. Outra empresa, Cler, fundada quatro dias antes da Red Sky, é também mencionada na investigação.
A Cler pertence a Ricardo Gonçalves, ex-diretor de Jogos da SCML, que partilha com Ventura e Lapa a mesma morada de uma quinta no Cartaxo nos documentos de constituição das suas empresas. Embora essa quinta não pertença a nenhum deles, está ligada a uma empresa que presta serviços à SCML, a Infinite Digital, cujo gerente, Rui Falcão de Campos, tem laços comerciais com várias empresas na Albânia.
Falcão de Campos, quando questionado, afirmou que o uso da sua morada foi uma coincidência, resultado de procedimentos simplificados na Albânia, já que o país é conhecido por resolver problemas administrativos de forma prática. Campos declarou ainda que não conhece pessoalmente os envolvidos, tendo apenas trocado emails com Ventura por razões profissionais.
Ricardo Gonçalves, por sua vez, confirmou a criação da Cler, mas afirmou que a empresa está suspensa desde maio de 2023, sem nunca ter iniciado atividade, tendo a escolha da Albânia para sediar a empresa sido baseada nas condições fiscais vantajosas e ao baixo custo de contratação de engenheiros informáticos.