Líder da extrema-direita francesa negou esta segunda-feira em tribunal quaisquer irregularidades no uso de fundos europeus e a sua aplicação no seu próprio partido, União Nacional.
A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, negou esta segunda-feira qualquer irregularidade no uso de fundos europeus, perante o tribunal onde começou a ser julgada sob acusação de ter aplicado essas verbas no seu partido, União Nacional (RN).
“Digo-vos muito claramente: não sinto que tenha cometido a mais pequena irregularidade, o mais pequeno ato ilegal”, disse Marine Le Pen, mostrando-se confiante e determinada no Tribunal Penal de Paris.
O RN, anteriormente designado Frente Nacional, e 24 dos seus dirigentes estão a ser julgados por alegadamente terem usado dinheiro destinado a assessores parlamentares da União Europeia (UE) para pagar a funcionários que trabalharam para o partido entre 2004 e 2016, em violação dos regulamentos do bloco europeu.
A líder do RN argumentou que as missões dos assistentes pagos pelo Parlamento Europeu deviam ser adaptadas às várias atividades dos eurodeputados, incluindo algumas missões altamente políticas relacionadas com o partido.
Além disso, descreveu a sua visão do papel dos eurodeputados, afirmando que este ia muito além do trabalho de elaboração e votação dos regulamentos da UE, justificando também o papel dos assessores que trabalham para cada eurodeputado.
“O assessor trabalha para o seu eurodeputado e, por conseguinte, pode trabalhar para o seu eurodeputado em benefício do partido”, defendeu Le Pen.
O papel da cunhada
A líder do partido teve de responder às perguntas do juiz sobre o trabalho de Catherine Griset, sua assistente parlamentar entre 2010 e 2016 e antiga cunhada, que terá passado apenas o equivalente a 12 horas de trabalho no PE entre outubro de 2014 e agosto de 2015, ganhando nesse período 3.206 euros mensais.
A líder do partido defendeu que Catherine Griset — agora uma de 30 eurodeputados do RN — trabalhou de facto para ela, referindo que recolheu a sua correspondência, tratou do seu correio eletrónico e organizou as suas viagens.
“Não ponho um dedo no meu correio eletrónico do Parlamento [Europeu]. Também não olho para o meu correio eletrónico profissional. O único e-mail que vejo é o meu e-mail pessoal”, afirmou Marine Le Pen.
No entanto, para justificar a falta de trabalho físico da sua assistente — algo a que estava contratualmente obrigada — Le Pen teve de admitir um lapso “na mudança de estatuto de colaboradora europeia para colaboradora local”, embora Catherine Griset lhe tivesse pedido para o fazer.
Marine Le Pen deve responder até quarta-feira às perguntas dos juízes sobre a utilização de dinheiro da UE para pagar ao seu guarda-costas, ao chefe do seu gabinete e a dois outros assessores do partido.
Le Pen estabeleceu um paralelo com a Assembleia Nacional francesa (a câmara baixa do parlamento francês), que “considera que a atividade política faz parte integrante do mandato do legislador”.
“Penso que é um erro do Parlamento Europeu não o entender desta forma”, acrescentou.
Le Pen (e não só) enfrenta 10 anos de prisão
Se forem considerados culpados, Marine Le Pen e os outros 25 co-arguidos podem enfrentar até 10 anos de prisão e multas até um milhão de euros cada, com a possibilidade de sanções adicionais, como a perda de direitos civis ou a inelegibilidade para concorrer a cargos públicos.
O julgamento de nove semanas é assim um momento crítico para a líder da extrema-direita francesa, que no caso de ser declarada culpada verá a sua carreira política e as suas aspirações afetadas, nomeadamente com a possibilidade de não se candidatar nas próximas eleições presidenciais em França.
A líder da extrema-direita francesa foi segunda classificada em relação a Emmanuel Macron nas eleições presidenciais de 2017 e 2022 e já revelou a intenção de se candidatar pelo seu partido em 2027.
Dois outros dirigentes do RN, incluindo o fundador do partido e pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, enfrentaram acusações semelhantes, mas foram isentos de acusação e de se apresentarem em tribunal por motivos de saúde.
// Lusa
é um problema dos criminosos não terem consciência