No início do século XX, John R. Brinkley tornou-se um fenómeno com os seus bizarros tratamentos para a disfunção erétil e a infertilidade. No entanto, vários processos judiciais acabaram por arrasar o seu império.
John R. Brinkley, um médico pouco ortodoxo, ganhou notoriedade no início do século XX ao realizar uma cirurgia inusitada que envolvia o transplante de testículos de bode em homens para tratar a disfunção erétil.
A história começa em 1917, quando um lavrador desesperado, em busca de uma cura para a sua impotência, visitou Brinkley em Milford, Kansas, nos Estados Unidos. Após uma conversa inusitada, o agricultor sugeriu um transplante de testículos de bode, e Brinkley, apesar dos riscos, aceitou o desafio.
O procedimento inicial foi feito em segredo e, para surpresa de muitos, o paciente voltou semanas depois elogiando os resultados e pagando generosamente ao médico. A notícia logo se espalhou, e outros pacientes começaram a procurar Brinkley para o mesmo tratamento.
Um dos casos mais notórios envolveu um homem chamado William Stittsworth, que trouxe até a sua esposa para um transplante de ovários de cabra, após o qual ela engravidou, levando-os a batizar o filho de “Billy”, uma referência ao termo “bode” em inglês.
Apesar da falta de evidências científicas e da clara improbabilidade dos procedimentos serem eficazes, Brinkley continuou a ganhar popularidade. Acumulou uma fortuna, abriu um hospital e tornou-se uma celebridade local.
Com a ajuda de figuras influentes, como o reitor da Faculdade de Direito da Universidade de Chicago, Brinkley consolidou a sua reputação de curandeiro milagroso. Os seus tratamentos eram promovidos como soluções não apenas para a impotência, mas para uma variedade de problemas de saúde relacionados com a velhice, revela a BBC.
Brinkley expandiu a sua fama ao fundar a estação de rádio KFKB, que transmitia uma mistura de entretenimento e conselhos médicos, promovendo os seus tratamentos e com a venda de remédios diretamente aos ouvintes, o que gerou preocupações na comunidade médica sobre o perigo de seus métodos, que incentivavam o autodiagnóstico e o autotratamento.
No meio de todo o sucesso, Brinkley enfrentou crescente escrutínio. O editor do Journal of the American Medical Association, Morris Fishbein, tornou-se o seu maior crítico, acusando-o de ser um charlatão. Em 1930, o Conselho Médico do Kansas revogou a sua licença, e sua estação de rádio foi fechada.
Mesmo após essas derrotas, Brinkley tentou seguir carreira política, candidatando-se ao governo do Kansas, mas não conseguiu ser eleito devido a questões técnicas com os votos. Posteriormente, aceitou um convite para operar uma estação de rádio no México, de onde continuou as suas transmissões e tratamentos.
No entanto, a queda de Brinkley foi inevitável. Em 1938, perdeu um processo por difamação contra Fishbein, o que abriu as portas para uma série de ações judiciais milionárias. A sua fortuna foi destruída, e sua estação de rádio foi confiscada. Em 1941, Brinkley declarou falência, e em 1942, faleceu aos 56 anos, deixando para trás um legado controverso de práticas médicas duvidosas e exploração da vulnerabilidade humana.