A pobreza na Argentina atingiu subiu 11,2 pontos percentuais para 52,9% da população, com 5,4 milhões de novos pobres no primeiro semestre do ano e do governo Milei — período no qual a pobreza infantil passou a atingir quase sete em cada dez crianças.
Números oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) da Argentina revelam perda do poder de compra perante a inflação, uma tendência que ameaça desencadear uma crise de emprego.
“Desde que este governo assumiu, tudo se quebrou. A moeda não vale nada. Os preços aumentam, mas os salários não. Há um desequilíbrio económico muito grande que prejudica quem vive do seu trabalho”, afirma à Lusa o reformado Hugo Benítez, de 78 anos.
Para completar a reforma mínima de 308 mil pesos (280 euros) que recebe como antigo pedreiro, Hugo passou a pedir dinheiro aos automobilistas quando param nos semáforos. Foi a única forma que encontrou para conseguir satisfazer as necessidades básicas.
“Esta é a última fonte de trabalho que temos para poder sobreviver. Tento manter-me a salvo sem afundar”, resigna-se Hugo.
“Nas próximas eleições, esse senhor, o Presidente Javier Milei, vai perder todos os deputados e senadores porque quem é que vai votar nele? Milei é como um tornado. Veio fazer este desastre“, critica.
Segundo os números oficiais, a pobreza afetou 52,9% da população no primeiro semestre de 2024, atingindo 24,9 milhões de pessoas que não têm o suficiente para as necessidades básicas em alimentação e serviços. O número é o maior desde 2003, quando o país saía do colapso económico de 2001/2002.
O numero é 11,2 pontos percentuais superior aos 41,7% de pobres que havia no país em dezembro passado, quando o Presidente Javier Milei assumiu o cargo. Foram 5,4 milhões de novos pobres em seis meses.
Desses, os indigentes representam 18,1%, — equivalentes a 8,5 milhões de pessoas que não podem comprar um cabaz básico de alimentos num dos países que mais proteínas, grãos e cereais produz no mundo.
São 4,2 milhões de pessoas a mais desde dezembro, quando a indigência atingia 11,9% da população, depois de uma inflação de 211,4% em 2023, a mais alta do mundo.
Nas estatísticas da pobreza infantil, 66,1% dos menores de 14 anos são pobres, representando 7,3 milhões de crianças. Nos casos mais extremos, o número de indigentes infantis, crianças que passam fome, chega a 27%, o dobro de há um ano.
Quando assumiu em dezembro passado, o presidente Javier Milei desvalorizou a moeda em 54% e adotou um forte ajuste fiscal, equivalente a cinco pontos do Produto Interno Bruto (PIB). Milei vangloria-se do que denomina “o maior ajuste fiscal da história da humanidade”.
A desvalorização da moeda fez disparar os preços. A perda de poder de compra paralisou a economia e os cortes na despesa pública paralisaram obras.
O PIB caiu 3,4% nos primeiros seis meses de governo Milei (-5,1% no primeiro trimestre). O consumo privado diminuiu 9,8%. Os setores mais dinâmicos para o emprego, como construção (-22,2%), indústria de manufaturas (-17,4%), comércio (-15,7%) e hotéis e restaurantes (-4,5%) desabaram.
A receita familiar aumentou 87,8% em média, enquanto o cabaz básica de alimentos subiu 115,3%, resultando numa perda de 27,5% do poder de compra. Já os serviços básicos subiram 119,3%, totalizando uma perda de 31,5% do poder aquisitivo.
A Argentina pode estar no ponto de inflexão a partir do qual uma crise de consumo gera também uma crise de desemprego, indicador que no primeiro semestre subiu de 6,2% a 7,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O ajudante de cozinha Miguel Guzmán, de 43 anos, ficou desempregado em janeiro, logo no começo do mandato de Milei.
Sem trabalho e com uma inflação acumulada de 145% desde que o novo Presidente Javier Milei tomou posse, Miguel deixou de conseguiu pagar a renda e passou a viver na rua, dependendo de doações para se alimentar.
“As formas que eu tenho hoje de conseguir um pouco de dinheiro são pedir às pessoas, juntar restos dos caixotes de lixo e vender nas feiras as coisas usadas que encontro. O dinheiro não chega para nada. A nossa moeda está totalmente desvalorizada”, descreve Miguel enquanto aguarda as 19 horas, quando a igreja abre o seu refeitório para sem-abrigo.
“Eu durmo ali em frente, na rua, com uns papelões e uns cobertores. Nesta bolsa estão todas as minhas coisas. Nem sequer um colchão para dormir eu tenho”, lamenta-se.
Quanto à esperança de sair desta situação, Miguel não está otimista enquanto Milei for Presidente. “Eu vejo as hipóteses de sair desta situação como muito distantes. Com este sistema, com este governo, desgraçadamente, não vejo saída. Esperemos que este governo saia para tentarmos nós sair desta”, admite.
Para o Presidente Javier Milei, a atual situação social é uma herança do governo anterior. O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, indicou que os primeiros meses do mandato foram dedicados a evitar uma hiperinflação que pioraria o quadro social.
“Este governo herdou uma situação desastrosa. Provavelmente, a pior herança que um governo recebeu na história argentina. Quando falamos sobre hiperinflação e da importância de tê-la evitado, a questão é que a pobreza teria passado de cerca de 40% para cerca de 95%. Teríamos entrado num mar de pobreza absoluta”, argumentou.
No entanto, essa visão não se traduz em mais tolerância social. Neste mês, todas as sondagens detetaram uma mudança de postura na opinião pública: a imagem do Presidente Javier Milei, até agora mais positiva do que negativa, inverteu-se, passando a ser mais negativa do que positiva.
// Lusa
“… afirma à Lusa o …” – Agência LUSA? Muito bem, percebido.
Efeitos da política de extrema direita populsta!
Que sirva de lição do que são as políticas neoliberais. Ainda assim se formos ver as redes sociais destes senhores muito liberais, falam do Milagre de Milei… Fica à vista o que é milagre… É milagre para quem se apropria dos recursos e meios de produção, de quem, graças ao pacote fiscal, passou a pagar menos impostos e acumulou mais dinheiro e bens… Agora para a vasta maioria é isto mesmo, sem apoios, sem dinheiro, sem serviços sociais e médicos, sem poder mesmo vom salário aceder aos bens básicos, sem acesso à habitação, etc… e não é porque não existam, é porque não podem comprar…
Criar manchete com viés é a coisa mais fácil que existe. Olha só!
Seis meses ANTES de Milei assumir. Mais de metade dos argentinos ESTAVAM na pobreza.
Nada mudou. E vai ser sempre a mesma coisa. Entra a esquerda e a pobreza aumenta, entra a direita e a pobreza aumenta também. Não são governos democráticos ou não que vão resolver as calamidades dos países. Não mais. É preciso urgentemente se repensar a democracia e a governança no mundo, ou elas vão nos tragar a todos para o abismo.
Se mais de metade estão na pobreza, então quer dizer que as coisas já melhoraram bastante com Milei.
O certo é que Milei estará, certamente, muito mais rico.
Isto dito assim, até parece que a desgraça começou com este presidente e a Argentina era um paraíso onde todos tinham os bolsos cheios de dinheiro . Era assim? Não me lembro…
O que me lembro, é que a Argentina estava de rastos em termos económicos e que eram necessárias medidas muito duras, terrivelmente impopulares e que teriam que durar anos, para recuperar. Tipo o que vivemos durante a Troika cá, mas a multiplicar por 4.
Não apoio nem deixo de apoiar este senhor Milei e também não sei se as medidas que tomou são as corretas ou não, sei só que era necessário fazer algo e que quem o fizesse seria trucidado politicamente. Isso era (e é…) certo.
Mas em Janeiro de 2024 quando ele ascendeu ao poder a taxa era de 57.4%, se agora está a 52.7% é melhor não é?
Esta taxa de 57.4% que foi a mais alta em 20 anos que foi noticiada em fevereiro de 2024 também tentaram colar a ser culpa dele em meios internacionais.
Na Argentina estava tudo errado, imprimindo dinheiro e aumentando a base econômica todo mês, quem não vê isso não entende nada de economia, Milei parou com isso mas tem um período de adaptação, mas está no caminho certo, talvez alguém ache que gastar mais do que ganha seja a solução, não vê que isso não pode dar certo infinitamente.
Incrível esta narrativa de querer limpar a m* que a esquerda andou a fazer durante décadas e a alucinação de que alguém vai corrigir em 6 meses o rumo de um país, depois de todas as políticas redestributivas sem nexo implementadas. Enfim, típico de quem tem zero de literacia financeira, política ou simples bom senso. Cá é igual.