O bico das aves marinhas é um radar para encontrar comida

Carla du Toit

Pinguim-do-cabo (Spheniscus demersus)

Uma equipa de cientistas descobriu que as aves marinhas, incluindo os pinguins e os albatrozes, apresentam regiões altamente sensíveis no bico que podem ser utilizadas para as ajudar a encontrar comida.

Tal como os humanos e outros primatas usam as mãos, as aves usam o bico para interagir com o mundo que as rodeia.

Segundo o Phys.org, é a primeira vez que esta capacidade é identificada neste tipo de espécies.

Num novo estudo, publicado esta quarta-feira no Biology Letters, os investigadores analisaram 361 espécies de aves modernas, com base em registos fósseis e esqueléticos, bem como de aves que tinham sido acidentalmente por linhas e redes de pesca.

Seguidamente, centraram-se nos bicos destas aves, na forma como são construídos e ligados aos seus nervos e vasos sanguíneos.

“Muitos cientistas assumiram que a maioria das aves tinha bicos sensíveis ao tato, mas ainda não tínhamos investigado o suficiente para saber se se trata de uma capacidade comum ou se está limitada a determinadas famílias de aves”, diz a primeira autora do estudo, Carla du Toit.

Os cientistas descobriram que os albatrozes e os pinguins apresentam órgãos com recetores sensoriais de alta densidade e altas concentrações de nervos nos seus bicos, o que é mais comum em forrageadores especializados como os patos.

Estes bicos sensíveis ao tato podem ajudar as aves marinhas a encontrar comida à noite ou debaixo de água, uma vez que podem permitir-lhes detetar as suas presas. No entanto, estas áreas também podem ser um traço remanescente de um antepassado comum que não tem uma função específica nas aves modernas, como os bicos de avestruzes e das emas.

As descobertas aqui descritas podem desempenhar um papel na conservação de algumas destas aves. Das 22 espécies de albatrozes conhecidas, 15 estão ameaçadas de extinção e duas estão classificadas como em perigo.

“É claro que as maiores ameaças para as aves como os albatrozes são as alterações climáticas, o aumento da temperatura dos oceanos, a poluição e a diminuição das unidades populacionais de peixe, mas se houver uma forma de reduzir os riscos para as aves marinhas é incrível”, conclui a investigadora.

São necessários mais estudos para entender este acontecimento — mas, se estas aves marinhas forem capazes de detetar vibrações de potenciais presas através dos seus bicos, poderá ser possível fixar algum tipo de dispositivo aos palangres que os possa repelir, para que as aves sejam menos propensas a serem apanhadas.

Soraia Ferreira, ZAP //

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