Um novo estudo que recorreu a simulações de computador concluiu que os planaltos de Ishtar Terra, em Vénus, se terão formado em processos semelhantes aos continentes terrestres.
Investigações recentes revelaram semelhanças surpreendentes entre as características geológicas dos primeiros continentes de Vénus e da Terra, sugerindo que os dois planetas podem ter uma história geológica mais parecida do que se pensava.
Vénus e a Terra são frequentemente descritos como planetas gémeos devido aos seus tamanhos e composições semelhantes. No entanto, os seus estados atuais não podiam ser mais diferentes. A Terra tem uma atmosfera hospitaleira, água em abundância, temperaturas moderadas e uma superfície dinâmica com placas tectónicas. Em contraste, Vénus está envolto em nuvens tóxicas, tem uma pressão atmosférica esmagadora e temperaturas à superfície que atingem 460 °C.
Uma distinção significativa entre os dois planetas é a ausência de placas tectónicas em Vénus, que desempenham um papel crucial na estabilidade climática que permitiu que a vida surgisse na Terra. No entanto, as regiões mais antigas da superfície de Vénus, Ishtar Terra, apresentam sinais de atividade tectónica. A formação destes planaltos foi durante muito tempo um mistério, lembra o Science Alert.
Um estudo recente publicado na Nature Geoscience dá novas pistas sobre este enigma. Os cientistas utilizaram dados da nave espacial Magellan da NASA, que mapeou a superfície de Vénus entre 1989 e 1994, para estudar o Ishtar Terra e exploraram, através de simulações em computador, a formação desta região há milhares de milhões de anos.
As suas descobertas sugerem que estes planaltos podem ter-se formado através de processos semelhantes aos que criaram os primeiros continentes da Terra. Na Terra, estas massas de terra antigas, conhecidas como cratões, emergiram do interior fundido e tornaram-se as sementes à volta das quais os continentes cresceram. Esta descoberta implica que a história geológica de Vénus pode incluir uma fase semelhante à da formação dos primeiros cratões da Terra.
“Este estudo desafia a nossa compreensão de como os planetas evoluem“, observou o geocientista e autor principal do estudo Fabio Capitanio, da Universidade Monash. “Não esperávamos que Vénus, com a sua temperatura de superfície escaldante e a ausência de placas tectónicas, possuísse características geológicas tão complexas.”
Esta revelação sugere que a divergência nas condições geológicas e atmosféricas entre Vénus a Terra ocorreu após a formação dos cratões, mas antes do estabelecimento da tectónica de placas.