Segundo um novo estudo, a atividade mental intensa é desagradável, irritante e frustrante. Talvez as pessoas escolham atividades que implicam esforço mental apesar desse esforço — e não por causa dele.
De acordo com um novo estudo da Associação Americana de Psicologia, o esforço mental parece estar associado a vários sentimentos e emoções desagradáveis em diversas situações exigentes.
Os resultados do estudo, que analisou a forma como as pessoas experimentam um esforço mental intenso, foram apresentadas num artigo publicado esta segunda-feira agosto na revista Psychological Bulletin.
“Muitas vezes, os chefes encorajam os empregados e os professores encorajam os alunos a exercerem esforço mental”, explica Erik Bijleveld, coautor do estudo e psicólogo da Universidade de Radboud, nos Países Baixos, em comunicado divulgado no EurekAlert.
“À primeira vista, parece funcionar bem: os empregados e os estudantes optam frequentemente por atividades mentalmente desafiantes. A partir daqui, podemos ser tentados a concluir que eles tendem a gostar de pensar muito”, nota o investigador.
“Os nossos resultados sugerem no entanto que esta conclusão seria falsa: em geral, as pessoas não gostam do esforço mental“, conclui Bijleveld.
No novo estudo, a equipa realizou uma meta-análise de 170 outros estudos, representando 4670 participantes de 29 países. Entre eles encontravam-se estudantes universitários, atletas amadores, engenheiros, professores e pessoas que trabalham num ambiente militar ou de cuidados de saúde.
A equipa analisou 358 tarefas cognitivas diferentes – praticar uma tacada de golfe, aprender a utilizar uma nova tecnologia, navegar num ambiente desconhecido, jogar um jogo de realidade virtual, entre outras.
Os participantes em todos os estudos relataram o esforço que fizeram e em que medida sentiram irritação, frustração, aborrecimento ou stress.
A equipa descobriu que, em todas as populações, quanto mais esforço mental uma tarefa exigia, mais os participantes do estudo relatavam sentimentos desagradáveis.
“Os nossos resultados mostram que o esforço mental é desagradável numa vasta gama de populações e tarefas”, afirma Bijleveld. “É importante que os profissionais, como engenheiros e educadores, tenham isto em mente quando concebem tarefas, ferramentas, interfaces, aplicações, materiais ou instruções”.
Segundo Bijleveld, uma descoberta notável foi que, embora a associação encontrada entre esforço mental e sentimentos adversos ainda fosse significativa, era menos pronunciada em estudos realizados em países asiáticos, em comparação com estudos norte-americanos ou europeus.
De acordo com os autores do estudo, estes resultados enquadram-se na noção geral de que a aversão ao esforço mental pode depender da história de aprendizagem de um indivíduo.
Normalmente, os estudantes do ensino secundário dos países asiáticos tendem a dedicar mais tempo aos trabalhos escolares do que os da Europa ou da América do Norte e podem aprender a suportar níveis mais elevados de esforço mental numa fase precoce das suas vidas.
Houve também uma importante observação do mundo real: apesar de as tarefas mentalmente desafiantes parecerem desagradáveis, as pessoas continuam a fazê-las voluntariamente.
“Por exemplo, porque é que milhões de pessoas jogam xadrez? É possível que as pessoas tenham aprendido que o esforço mental em determinadas atividades específicas pode ser recompensado. Se os benefícios do xadrez forem superiores aos custos, as pessoas podem optar por jogar xadrez e até declarar que gostam de jogar xadrez”, disse Bijleveld.
“No entanto, quando as pessoas optam por realizar atividades que implicam um esforço mental, isso não deve ser entendido como uma indicação de que gostam do esforço mental em si. Talvez as pessoas escolham atividades que impliquem esforço mental apesar do esforço, e não por causa dele“, conclui.