Toda a parte da frente da boca era só dentes gigantes. Este era um daqueles predadores ferozes que não gostaríamos de encontrar durante um mergulho nos pântanos da Terra antiga.
O recém-descoberto Gaiasia jennyae era uma criatura do pântano com grandes presas, semelhante a uma salamandra, com um crânio de cerca de 60 centímetros de comprimentocom a bizarra forma de uma tampa de sanita.
Segundo um novo estudo de uma equipa internacional de investigadores, publicado esta quarta-feira na Nature, o G. jennyae viveu há cerca de 280 milhões de anos, no início do Pérmico — 40 milhões de anos antes da chegada dos dinossauros.
A nova espécie foi identificada a partir de fragmentos de esqueletos fossilizados de quatro espécimes, que foram encontrados na Formação Gai-As, na Namíbia.
“Quando encontrámos este enorme espécime deitado no afloramento como uma concreção gigante, foi realmente chocante”, diz a paleontóloga de vertebrados Claudia Marsicano, investigadora da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, e primeira autora do estudo, em comunicado publicado no EurekAlert.
“Só de o ver, percebi que se tratava de algo completamente diferente. Ficámos todos muito entusiasmados”, acrescenta a investigadora.
O nome Gaiasia jennyae foi atribuído em referência ao local onde foi descoberto e à falecida Jenny Clack, paleontóloga muito respeitada que se especializou na evolução dos primeiros tetrápodes — a categoria de vertebrados com quatro membros, em que se insere o G. jennyae.
“O Gaiasia jennyae era consideravelmente maior do que uma pessoa e provavelmente andava perto do fundo de pântanos e lagos”, diz Jason Pardo, um paleontólogo do Museu Field de História Natural em Chicago e co-autor do estudo.
Pardo descreve a criatura de forma que provavelmente não irá diminuir as nossas probabilidade de ter pesadelos com ela: “Tinha uma cabeça grande, achatada, em forma de tampa de sanita, que lhe permitia abrir a boca e sugar a presa, e umas presas enormes. Toda a parte da frente da boca era só dentes gigantes“.
Numa nota um pouco mais tranquilizadora, o G. jennyae era provavelmente relativamente lento, baseando-se mais em emboscadas do que na velocidade, por isso, quem tropeçasse num destes bichos poderia ter tido uma hipótese de escapar às suas garras.
“A estrutura da parte frontal do crânio chamou-me a atenção”, diz Marsicano. “Era a única parte claramente visível na altura e apresentava grandes presas entrelaçadas de forma invulgar, criando uma mordida invulgar entre os primeiros tetrápodes“.
O crânio de G. jennyae é muito maior do que o de fósseis relacionados encontrados na Europa e na América do Norte.
Os investigadores pensam que a nova espécie pode preencher algumas lacunas no registo fóssil, uma vez que há indicações de que os primeiros tetrápodes, como este, podem ter coberto mais áreas do planeta do que se pensava anteriormente.
A Namíbia situa-se atualmente a noroeste da África do Sul, mas há 300 milhões de anos estava ainda mais a sul — tocava a Antártida. Quando uma era glaciar estava a chegar ao fim, pântanos como os que G. jennyae habitava existiam possivelmente ao lado de extensões de gelo e glaciares.
“Isto diz-nos que o que estava a acontecer no extremo sul era muito diferente do que estava a acontecer no equador, o que é muito importante, porque apareceram muitos grupos de animais desta altura que não sabemos bem de onde vieram“, conclui Pardo.
Em português de Portugal preferimos dizer Pérmico em vez de Permiano – era boa ideia mudarem termo…
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo.
Efetivamente, em português de Portugal as antigas designações dos períodos geológicos, como “cretáceo” e “permiano”, foram alteradas para “cretácico” e “pérmico”.
Está corrigido.