Uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade de Toronto, encontrou um novo vírus RNA à boleia de um parasita humano.
O vírus Apocryptovirus odysseus foi descoberto através da análise computacional de dados de neurónios e está associado à inflamação grave em humanos infetados com o parasita Toxoplasma gondii, uma característica que levou a equipa a levantar a hipótese de que agrava a doença da toxoplasmose.
“Descobrimos A. odysseus em neurónios humanos através da plataforma Serratus, que usamos para investigar mais de 150.000 vírus de RNA”, disse Purav Gupta, citado pelo SciTechDaily.
“O Serratus identifica vírus de RNA a partir de dados públicos, sinalizando uma enzima – chamada RNA polimerase –, dependente de RNA, que facilita a replicação do RNA viral. Essa enzima permite que o vírus se reproduza e que a infecção se espalhe”, acrescenta o investigador.
O parasita T. gondii, que infeta cerca de um terço da população mundial, consegue viver em qualquer tipo de célula não sanguínea, incluindo neurónios, formando cistos dentro dessas mesmas células. É transmitido para células próximas quando a infetada se rompe.
As infeções por T. gondii passam muitas vezes despercebidas porque só causam sintomas em casos raros. Ainda assim, a toxoplasmose merece especial atenção, tendo em conta a sua difusão e os efeitos potenciais que pode ter nas mulheres grávidas e nas pessoas imunocomprometidas.
“Acreditamos que o vírus e o parasita trabalham de mãos dadas para causar doenças no hospedeiro humano, onde o vírus se esconde dentro do parasita, como um soldado num cavalo de Tróia, para conseguir entrar no cérebro”, destacou Gupta. “A nossa pesquisa é pioneira a relacionar a toxoplasmose a um vírus.”
O recém-descoberto A. odysseus é encontrado em duas estirpes hipervirulentas do parasita T. gondii, conhecidas como RUB e COUGAR.
O RUB, documentado na Guiné Francesa, causa febre grave e falência de órgãos, enquanto o COUGAR demonstrou, particularmente na Colúmbia Britânica, estar ligado à toxoplasmose ocular – a principal causa de cegueira infecciosa.
O artigo científico foi recentemente publicado na Virus Evolution.