Relato inspirador proveniente do interior do Hospital Nacional de Paraplégicos em Espanha: “É duro. Mas podes viver muito bem”.
São 50 anos de serviço, são 35 mil pacientes. Cada um com a sua história de vida. Todos passaram pelo Hospital Nacional de Paraplégicos, em Espanha.
Iván Díaz sofreu um acidente de carro aos 19 anos. Ficou tetraplégico devido a danos irreversíveis nas vértebras cervicais C6 e C7.
Após acordar de um coma induzido de 15 dias, viu que não se conseguia mexer, nem conseguia falar. Eis o desafio de reaprender ações do dia-a-dia.
Rapidamente percebeu que estava numa nova vida.
No entanto, conta à TVE, rapidamente adotou uma perspetiva positiva sobre a sua nova realidade. Decidiu que viveria uma vida plena, independentemente dos desafios.
E hoje, 29 anos depois do acidente, confessa: “Há muito tempo que não sinto falta de caminhar”. Aceitou, adaptou-se à lesão na medula.
“É duro. Tens que trabalhar muito. Mas no final, não só podes viver com isso, como também podes viver muito bem“, acrescentou Iván.
A jornada de Iván Díaz no hospital foi marcada por uma luta silenciosa e introspetiva. Inicialmente, focou-se na recuperação por causa da sua família, evitando mostrar a sua dor e a sua incerteza: “Nunca me viram a chorar no hospital; porque eu estava à espera que a luz se apagasse para chorar. E suponho que a minha família fazia o mesmo, porque nunca os vi a chorar à minha frente”.
Com o tempo, passou a aceitar a sua condição e trabalhou arduamente para melhorar. Este caminho envolveu muitos pequenos progressos diários, que, embora não percetíveis no curto prazo, resultaram em melhorias significativas ao longo do tempo.
Perceber, psicologia
Os pacientes geralmente passam por um processo psicológico profundo, experimentando todas as fases do luto, desde a negação até à aceitação.
No hospital, tentam reeducar várias funções vitais afetadas pela lesão – respiração, função intestinal e controlo da bexiga, que são cruciais para a qualidade de vida do paciente. E ainda a resposta sexual, que também muda.
Mas, como seria de esperar, a primeira reação dos pacientes é a pergunta: “Vou voltar a caminhar?” – e o processo (também) psicológico começa aí.
Ao longo das semanas (ou meses, ou anos) seguintes, o doente vai percebendo a verdadeira dimensão do que lhe aconteceu e de como será a sua vida a partir daí. A tal reeducação.
Para suavizar a já mencionada luta silenciosa, o hospital não só fornece tratamento médico, mas também suporte emocional intensivo. A equipa psicológica ajuda os pacientes a enfrentar a perda de mobilidade e a reconstruir as suas vidas.
Este suporte é crucial para que, quando deixarem o hospital, os pacientes estejam emocionalmente prontos para continuar as suas vidas sem a necessidade de auxílio a nível mental.
Mas é mesmo um exemplo de superação: “Considero que a minha vida tem sido muito plena. Além disso, desde que acordei até onde estou agora, não me permito reclamar, porque o que conquistei custou-me muito”.
Fica um desejo: “Espero que o meu futuro seja muito parecido com o meu presente. Não penso outra coisa senão continuar a viver“.