Só um resgate genético pode salvar o último felino da Arábia

O leopardo-árabe (Panthera pardus nimr) é uma rara e pequena subespécie de leopardo, nativa do Médio Oriente. Encontra-se em perigo de extinção devido à caça furtiva, destruição e fragmentação do seu habitat.

A libertação de animais criados em cativeiro, pode contribuir bastante para o sucesso da recuperação da população selvagem e evitar a perspetiva de extinção.

O novo estudo, publicado no Evolutionary Applications, recorreu à análise genética de conservação, a simulações informáticas de ponta e a um extenso trabalho de campo em Omã para examinar o ADN do leopardo-da-arábia e avaliar o risco de extinção futura.

Segundo o Phys.Org, os investigadores realizaram um inquérito na cadeia remota montanhosa de Dhofar, para determinar quantos exemplares do último felino da Arábia sobrevivem.

Esta subespécie distingue-se por ter um corpo mais compacto e um peso relativamente baixo em comparação com outras subespécies de leopardos: pesam entre 20 e 30 kg, sendo, portanto, menores do que a maioria dos leopardos africanos e asiáticos, que podem pesar até 90 kg.

A sua menor estatura está adaptada às regiões desérticas áridas onde vivem, o que lhes permite ser eficientes num ambiente onde a comida e a água são escassas.

Recorrendo a armadilhas fotográficas no alto das cadeias montanhosas onde os leopardos vivem e através da recolha das fezes que deixam nos desfiladeiros, a equipa rastreou os leopardos selvagens da região, estimando que podem restar atualmente apenas 51 leopardos selvagens.

Os investigadores identificaram baixos níveis de diversidade genética na população selvagem de leopardos em Omã — ao contrário dos níveis mais elevados encontrados nos leopardos em cativeiro na região, em particular entre vários indivíduos originários do Iémene.

Estes exemplares em cativeiro são assim um recurso genético com potencial para desempenhar um papel importante na recuperação bem sucedida do leopardo-da-arábia.

A equipa mostrou que a população selvagem poderia ser recuperada através de um “resgate genético” — a introdução de descendentes de leopardos criados em cativeiro, que oferecem maior diversidade genética do que a da população selvagem.

“Fizemos o levantamento e a recolha de cascas de leopardo em toda a cordilheira de Dhofar e extraímos ADN das mesmas, que analisámos para quantificar a sua diversidade genética”, diz Jim Groombridge, investigador da University of East Anglia (UEA) e autor principal do estudo, em comunicado da universidade.

“Conseguimos assim determinar o número de leopardos que permanecem na natureza”, acrescenta o investigador.

A análise dos resultados obtidos permitiu aos investigadores identificar uma ameaça à sobrevivência desta espécie: a consanguinidade provocada pela escassez de espécimes vivos.

“O problema é que todos os indivíduos estão de alguma forma relacionados entre si. São os descendentes dos poucos antepassados que conseguiram sobreviver a um grande colapso populacional“, explica Cock van Oosterhout, professor da Escola de Ciências Ambientais da UEA.

“Assim, torna-se praticamente impossível parar a consanguinidade, o que expõe as mutações ‘más‘, a que chamamos carga genética. Por sua vez, isto pode aumentar a taxa de mortalidade, causando um maior colapso da população”, acrescenta van Oosterhout.

“Esta carga genética representa uma ameaça grave, mas pode ser aliviada através do resgate genético, e o nosso estudo encontrou a melhor forma de o fazer. A população selvagem precisa deste ‘resgate genético’ de leopardos geneticamente mais diversificados criados em cativeiro”, conclui o investigador.

Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado a semana passada na Evolutionary Applications.

Soraia Ferreira, ZAP //

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