Os cientistas estão a explorar a possibilidade intrigante de a síndrome de Laron, uma forma rara de nanismo, poder oferecer pistas para retardar o envelhecimento e reduzir o risco de doenças relacionadas com a idade.
Esta síndrome, que afeta apenas 400 a 500 pessoas em todo o mundo, tem sido associada a uma série de efeitos positivos para a saúde, incluindo a redução do risco de diabetes, cancro, declínio cognitivo e, atualmente, de doenças cardiovasculares.
Um estudo recente publicado na revista Med descobriu que as pessoas com síndrome de Laron têm uma tensão arterial mais baixa, uma menor acumulação de gordura nas artérias e uma parede da artéria carótida mais fina, em comparação com os seus familiares sem a doença.
Estes resultados, escreve a revista Nature, sugerem que estas pessoas poderão correr um menor risco de doença cardiovascular.
A síndrome de Laron é causada por uma deficiência no recetor da hormona do crescimento, que impede o organismo de utilizar corretamente esta hormona. Isto leva a níveis baixos do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), que desempenha um papel crucial na promoção do crescimento dos ossos e dos tecidos.
Embora os níveis baixos de IGF-1 estejam geralmente associados a um risco mais elevado de doenças cardiovasculares, o estudo mostrou que as pessoas com síndrome de Laron parecem estar protegidas contra essas doenças.
“Esta era a última peça que faltava para mostrar que parecem estar protegidas de todas as principais doenças relacionadas com a idade”, afirmou Valter Longo, biogerontologista da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, e coautor do estudo.
A equipa de investigação examinou 24 pessoas com síndrome de Laron e 27 dos seus familiares, todos do Equador, onde vive cerca de um terço das pessoas com esta doença. As suas descobertas desafiam o pressuposto de que baixos níveis de IGF-1 conduzem a riscos cardiovasculares.
Os resultados do estudo são preliminares devido ao pequeno tamanho da amostra, mas estão de acordo com outras pesquisas sobre condições semelhantes.
Manuel Aguiar-Oliveira, endocrinologista da Universidade Federal de Sergipe, no Brasil, encontrou proteção cardiovascular semelhante num grupo de pessoas com outra mutação rara que provoca baixa estatura.
Ravi Savarirayan, geneticista clínico e investigador do Murdoch Children’s Research Institute em Melbourne, na Austrália, observou resultados semelhantes num tipo diferente de nanismo chamado acondroplasia.
As descobertas sugerem que o estudo da síndrome de Laron pode levar a novas estratégias para prevenir doenças cardiovasculares e outras doenças relacionadas com a idade na população em geral.
Longo acredita que os medicamentos orais que têm como alvo o recetor da hormona do crescimento podem potencialmente baixar os níveis de IGF-1, reduzindo os riscos cardiovasculares. No entanto, Aguiar-Oliveira adverte que a interferência nos níveis hormonais pode ser arriscada e ter consequências indesejadas.
Longo e Jaime Guevara-Aguirre, um endocrinologista da Universidade de São Francisco em Quito, no Equador, estão a defender que as empresas farmacêuticas e o governo equatoriano forneçam IGF-1 a crianças e adolescentes com a síndrome para promover o crescimento. Esta intervenção poderia ajudá-los a obter melhores resultados em termos de crescimento e desenvolvimento.