Há uma razão para se sentir mal no trabalho. Metade esconde

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Certamente já se sentiu mal no trabalho, com uma gripe, uma dor de barriga ou algo que pudesse dificultar a concentração e a produtividade. Mas qual é a probabilidade de dizer ao seu chefe que não se sente bem e que quer ir para casa?

Enquanto os trabalhadores provavelmente contariam ao chefe que estão com uma dor de estômago, muitas mulheres que menstruam e se sentem mal todos os meses, dificilmente falam sobre os seus períodos difíceis. Especialmente no trabalho.

Este facto foi confirmado num estudo recentemente publicado na QUT ePrints, que englobou 247 estudantes e trabalhadoras menstruadas.

Segundo o Science Alert, os autores do relatório descobriram que apenas 6,7% seriam transparentes com o seu empregador sobre o motivo pelo qual tiveram de se ausentar do trabalho ou ficar em casa.

Além disso, 87% dos inquiridos — 96% dos quais se identificaram como mulheres — sentiram que o seu período menstrual interferia frequentemente com o seu trabalho ou estudo.

Uma inquirida disse que “por vezes, limitava-me a dizer que não estava bem e que precisava de trabalhar em casa para estar perto de uma casa de banho. Deixava que as pessoas presumissem que era gastroenterite”.

Outra disse que “não me sinto à vontade para dar esta razão para faltar ao trabalho, pois parece uma desculpa, apesar de viver com dores crónicas”.

O tema da menstruação continua, assim, a fazer parte da lista de tabus.

A boa notícia é que já se começam a haver iniciativas destinadas a tornar mais inclusivos os locais de trabalho para as mulheres com menstruação.

Espanha é o primeiro país da Europa a aprovar uma licença menstrual

Espanha é o primeiro país da Europa a introduzir uma “licença temporária por doença, totalmente financiada pelo Estado para períodos dolorosos e incapacitantes”.

O Conselho de Ministros espanhol aprovou, em 2022, uma licença para menstruações incapacitantes entre três a cinco dias.

Na altura, Irene Montero, Ministra da Igualdade, em conferência de imprensa depois da apresentação do novo projeto de lei, disse que “já não é tabu ir trabalhar com dor, ter de tomar comprimidos antes de ir trabalhar ou ter de esconder” as dores menstruais.

Portugal teve licença menstrual durante quase 30 anos, mas aboliu-a em 2009

A negociação de contratos coletivos de trabalho nos anos 80 previa a criação de uma licença menstrual, mas a revisão ao Código do Trabalho, aprovada em 2009, acabou com este direito.

A aprovação em Espanha e o chumbo à proposta do PAN vieram trazer o tema da licença menstrual de novo ao debate público.

Mas, Portugal já teve uma licença menstrual que foi criada nos anos 80, com as negociações de contratos coletivos de trabalho assinados entre os patrões e os sindicatos, principalmente nos setores do turismo e alimentar.

Os contratos garantiam que as mulheres tinham direito a “uma licença que não ia além dos dois dias, sendo a remuneração facultativa“, revela Fátima Messias, Coordenadora da Comissão para a Igualdade de Género da CGTP, ao Público.

Era precisa a apresentação de uma justificação e detalhes sobre o historial de problemas de saúde das mulheres que pedissem a licença.

Foi [um direito] muito utilizado”, acrescenta a dirigente sindical, especialmente nas fábricas, onde as condições de trabalho em pé impediam as mulheres com mais dores de desempenharem as suas tarefas normalmente.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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