E se lhe dissessem que anda a comer vespas? Não estariam propriamente a mentir. Cada figo polinizado conta uma crocante história de sacrifício e incesto.
Quem ainda não sabe, parece não acreditar, mas sim, os figos são, na verdade, flores — e só existem porque são polinizados num processo muito especial. Mas ainda não chegámos à melhor (ou pior) parte.
A figueira, a planta que nos dá figos, não floresce exatamente da mesma forma que as macieiras ou pessegueiros. Dá flores invertidas, com tom roxo, que realmente parecem fruta. Abrem-se internamente, e por isso exigem um processo de polinização único.
Certas variedades comestíveis de flores produzem uma semente coberta de frutos produzidos pela flor, que é o que dá a alguns figos a sua propriedade crocante. São como centenas de pequenos pontinhos que florescem dentro de bolas de tecido vegetal, explica o ecologista Mike Shanahan ao Bon Appétit.
Boa parte das variedades de figos que encontramos à venda não precisam de polinização, mas se o figo tiver sementes — e se for seco, variedade que é também muito procurada — é porque foi polinizado. Mas por quem?
Uma crocante história de sacrifício e incesto
O processo de polinização é responsabilidade das vespas de figo, que morrem dentro de cada vagem carnuda que tanto apreciamos. Ou seja, quando comemos figos… comemos vespas? Sim… e não.
Com apenas alguns milímetros de comprimento, a vespa fêmea força a sua entrada num figo quando este ainda está verde e deposita os seus ovos nas flores. Nessa jornada, as suas antenas partem-se e as suas asas são arrancadas.
Por essa altura, a pequena mãe já não consegue abandonar o figo. E mesmo ao seu lado, tem lugar um rápido e eficaz momento de incesto.
Nos ovos depositados está a prole masculina — ou o ‘filho’ — da vespa de figo e a feminina, a irmã, que acasalam. Esta prole masculina recorre depois às suas mandíbulas para abrir túneis, mas não é para conseguir escapar: é para a senhora fertilizada poder sair.
Antes de abandonar o figo, a vespa fertilizada recolhe o pólen das flores masculinas e tapa as rotas de fuga que criou para escapar, deixando os seus irmãos e a sua mãe a morrer dentro do figo, que comemos mais tarde.
A jovem fertilizada voa em busca de outros figos, onde fará o que a sua mãe fez: sacrificar a sua vida em defesa da espécie, mas não por muito tempo — estas vespas vivem cerca de 48 horas.
Mas calma: os pedaços estaladiços que sentimos no figo não são as vespas, mas sim sementes. Quando comemos o figo, já há muito que uma enzima digeriu o exoesqueleto das vespas.