Ventura e Raimundo quase no mesmo sítio. Um cheio de guarda-costas, outro cheio da bolha mediática

Estela Silva / LUSA

André Ventura em campanha eleitoral do Chega, no Porto

Financiamento do Chega é “transparente e legal”. Há um “brutal afastamento” entre o que é debatido e as principais preocupações das pessoas.

O presidente do Chega, André Ventura, rejeitou quaisquer dúvidas sobre o financiamento do partido, afirmando que “está tudo absolutamente transparente e legal” e classificando como “um ataque” as notícias sobre o assunto.

“Essas dúvidas foram lançadas para fora sem qualquer fundamento, todo o financiamento do Chega, todos os seus donativos, são entregues à Entidade das Contas [e Financiamentos Políticos]”, disse.

Em declarações aos jornalistas numa arruada no Porto, André Ventura foi questionado sobre a reportagem de investigação publicada pelo jornal Público, que faz um retrato sobre os financiadores do Chega.

O jornal refere que há uma grande “família” de financiadores do partido – de várias camadas da sociedade, da aristocracia ao povo de esquerda.

O líder do Chega alegou que “está tudo absolutamente transparente e tudo absolutamente legal”.

“Espero que façam o mesmo ao PS e ao PSD. Vou estar muito atento a ver se amanhã e depois temos os cheques de João Rendeiro para o PS e do Ricardo Salgado para a AD”, afirmou.

“É isso que espero que aconteça. Como não vai acontecer, sabemos que é só mais um ataque ao Chega, sem qualquer fundamento”, acusou.

O presidente do Chega indicou que “quem quiser apoiar o Chega tem forma de o fazer, vai ao seu portal de forma transparente e apoia”.

Temos apoiantes ricos, pobres, menos pobres, nós não escolhemos, eles apoiam-nos”, acrescentou, dizendo ter “orgulho em todos os apoiantes”.

Durante a arruada na rua de Santa Catarina, que decorreu debaixo de chuva forte, André Ventura foi questionado também sobre as declarações da coordenadora do BE, que considerou no sábado que um dos aspetos da “cavalgada da direita” e da “mutação política” destas eleições são os “rios de dinheiro que correm de cofres milionários” para partidos como Chega e IL.

“Eu acho que Mariana Mortágua é a última pessoa que pode falar de milhões para os seus partidos, visto que o BE é só especuladores imobiliários que andam à volta do partido”, alegou, considerando que a líder bloquista “não tem nenhuma moral para falar do Chega nem dos outros partidos de direita”.

A arruada no Porto, que começou pelas 16:00, foi a primeira ação da caravana do Chega naquele que é o primeiro dia de campanha oficial para as eleições legislativas de 10 de março.

Além da já mencionada chuva forte, a passagem pela Rua Santa Catarina ficou marcada pela pouca proximidade física com populares e jornalistas. Rodeado por várias pessoas, numa espécie de círculo de guarda-costas, este primeiro dia foi mais um desfile de André Ventura do que uma arruada, como descreveu a RTP.

Bolha mediática

A poucos metros da comitiva do Chega esteve, no mesmo dia e praticamente à mesma hora, a comitiva da CDU: no Teatro Rivoli, no Porto.

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, criticou neste domingo o “brutal afastamento” entre a agenda da “bolha mediática” e as principais preocupações das pessoas para as próximas eleições, denunciando uma “operação de bipolarização” do voto.

“É abismal a diferença entre os temas de debate e a vida das pessoas. E é de sublinhar o alinhamento de todos com a agenda da bolha mediática e o brutal afastamento do dia a dia de milhões de pessoas que cá vivem e trabalham. Esta bolha quis e, pelos vistos, quer que se fale muito da forma e pouco do conteúdo”, afirmou o líder da CDU (Coligação Democrática Unitária, que junta PCP e PEV), no comício de abertura oficial da campanha.

Perante quase mil pessoas no Rivoli, Paulo Raimundo apontou o “malabarismo” e a “conversa” de PS, com “a continuação da experiência dos últimos dois anos de maioria absoluta”, e da direita, defendendo que a Aliança Democrática (AD, que agrega PSD, CDS e PPM), a Iniciativa Liberal e o Chega pretendem um “caminho de retrocesso ao passado e aos tempos sombrios da ‘troika’”.

“Percebemos a operação em curso: centrar tudo na bipolarização e mandar para baixo aquela que é a força mais consequente. Sabemos o que querem: condicionar as opções agora para mais tarde se esquecerem daquilo que erraram nestes dias em que estão a fazer sondagens. Esta operação com a qual lidamos há muitos anos apenas tem de nos dar mais força e mais vontade para falar com muita gente e mobilizar os que precisam de mais CDU”, frisou.

Para o secretário-geral comunista, este retrato da campanha eleitoral foi já visível nos debates televisivos das últimas semanas, ao considerar que foram marcados por “dualidade de critérios” e que entregaram “dezenas de horas que faltavam aos candidatos” para as “apreciações de ilustres comentadores”.

“Esses debates onde se procurou que tudo fosse matéria de discussão, menos as questões fundamentais ou os problemas centrais: os salários, o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, a habitação, a cultura, a produção nacional, a agricultura, a pesca, o trabalho e os trabalhadores. Questões centrais que só a CDU não abdicou de colocar em cima da mesa”, resumiu.

Paulo Raimundo apelou aos militantes comunistas para um derradeiro esforço na reta final para as eleições de 10 de março.

“Temos estado nas ruas, à porta das empresas, nos serviços públicos, junto dos utentes, nas escolas e todos aqui sabem que, fruto dessa nossa ação, há um fosso enorme entre os chamados estudos de opinião e sondagens com aquilo que ouvimos das pessoas. O que nos dizem é que a CDU faz falta e faz cada vez mais falta. E é por isso que, ao contrário daquilo que procuram vender todos os dias, a CDU está a crescer”, concluiu.

ZAP // Lusa

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