O Telegram deveria ser controlado porque “há pessoas realmente más”

O discurso de ódio partilhado online volta a ser assunto, num país em que a agitação e as posições extremistas são cada vez mais visíveis.

O problema não é das redes sociais; é de quem as utiliza.

Este primeiro parágrafo, não sendo uma ideia unânime, será aprovado pela maioria dos nossos leitores.

As redes sociais vieram trazer muitas boas novidades para muita gente, melhorar a vida (e o negócio) de milhões de pessoas.

Mas também, como tudo, tem uma vertente mais negativa, até mais perigosa.

Se usamos o Facebook ou o WhatsApp para reencontrar amigos ou marcar jantares importantes, há quem utilize as mesmas plataformas para discursos de ódio online e para marcar manifestações extremistas.

Focando no Telegram, que é a terceira aplicação de mensagens mais utilizadas em Portugal, com 13,7% da quota. Um relatório recente da OberCom mostra que Só WhatsApp e Messenger (Facebook) ficam à frente.

Ainda no ano passado o Telegram foi bloqueado no Brasil. A Justiça brasileira decidiu suspender a plataforma porque queria dados sobre grupos extremistas, que andavam a movimentar-se no Telegram com partilha e incentivo a actos antissemitas e racistas, e atentados em escolas; a empresa não cedeu esses dados.

Na Alemanha a agitação político-social tem sido mais evidente ao longo dos últimos tempos.

Um dos motivos para um maior extremismo e para a generalização de posições radicais tem três letras: AfD – Alternativa para a Alemanha.

O partido de extrema-direita, cada vez mais popular no país, tem seguidores que usam principalmente o Telegram frequentemente e intensivamente – e com sucesso.

Devido ao aumento das movimentações de extremistas (do AfD e não só), há responsáveis locais que exigem regras mais rigorosas nas aplicações de mensagens, sobretudo no Telegram.

Há pessoas realmente más que querem abolir a nossa democracia e o nosso estado constitucional”, avisou o primeiro-ministro da Saxónia, Michael Kretschmer (CDU), ao jornal Handelsblatt.

Os alertas continuaram: “Extremistas de direita como os chamados Saxões Livres usam o Telegram para espalhar as suas mensagens de ódio em larga escala” – por vezes chegam a mais pessoas do que qualquer jornal diário.

Diversos líderes políticos pedem uma regulamentação mais rigorosa, uma abordagem diferente contra o “discurso diário de ódio e propaganda”.

O Telegram tem mesmo impacto na Alemanha: o tal grupo extremista, Saxões Livres, tem 150 mil seguidores num grupo aberto. Há sete chats regionais com cerca de 26 mil participantes.

Os Turíngias Livres têm pelo menos 19 mil seguidores e o principal candidato estadual do AfD, Björn Höcke, tem 31 mil seguidores.

A líder nacional do partido, Alice Weidel, tem um chat com os seus seguidores – e tem 58 mil pessoas inscritas.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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