“Vergonhoso”. Noruega ignora os cientistas e aprova mineração no fundo do mar

Adrian Fagg / Flickr

Costa norte da Noruega

Apesar dos avisos dos cientistas sobre o impacto ambiental, o parlamento norueguês aprovou a mineração nas águas profundas do Ártico.

A Noruega deu um passo importante para se tornar o primeiro país do mundo a abrir o seu leito marinho para mineração comercial em águas profundas, após uma controversa votação parlamentar na terça-feira.

A decisão foi tomada apesar dos avisos de cientistas sobre o impacto devastador na vida marinha e da oposição da União Europeia e do Reino Unido, que pediram uma proibição temporária da mineração em águas profundas devido aos riscos ambientais.

A proposta, aprovada pelo parlamento norueguês com 80 votos a favor e 20 contra, atraiu apoio de vários partidos e deve acelerar a exploração de minerais — incluindo metais preciosos — que estão em alta exigência para as tecnologias verdes.

A decisão inicialmente aplica-se  às águas norueguesas e expõe uma área maior que a Grã-Bretanha — 280.000 km² — à potencial mineração por empresas, que poderão solicitar licenças para minerar minerais como lítio, escândio e cobalto. Espera-se que um acordo sobre a mineração em águas internacionais seja alcançado ainda este ano.

Após a votação, o Governo norueguês foi criticado por ignorar cientistas ambientais e o conselho de seus próprios especialistas. A Greenpeace descreveu o dia como “vergonhoso” para a Noruega, e Frode Pleym, líder da Greenpeace Noruega, aponta a hipocrisia do país, que se posiciona como “líder oceânico ao mesmo tempo que dá luz verde à destruição dos oceanos nas águas do Ártico”.

Kaja Lønne Fjærtoft, da WWF, expressou uma “pequena esperança” pelo facto de que as licenças de extração ainda precisarão de aprovação parlamentar, uma emenda adicionada após forte pressão internacional.

Um representante do departamento de energia avança ao The Guardian que, embora a mineração em águas profundas tenha sido aprovada em princípio, ainda não foram concedidas licenças a empresas. As candidaturas à mineração terão que ser avaliadas pelo departamento e voltar ao parlamento.

A Environmental Justice Foundation (EJF) declarou que a decisão marca negativamente a reputação da Noruega como um estado oceânico responsável. Steve Trent, CEO da EJF, ressaltou: “A mineração em águas profundas é uma busca por minerais que não precisamos, com danos ambientais que não podemos pagar“.

Um relatório da EJF publicado na terça-feira argumentou que a mineração em águas profundas não é necessária para a transição energética limpa. Trent acredita que as minas actuais já são suficientes se as taxas de reciclagem melhorarem.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos deverá reunir-se ainda este ano para finalizar as regras sobre mineração em águas profundas, com uma votação prevista para o próximo ano.

Adriana Peixoto, ZAP //

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