Uma equipa internacional de investigadores identificou as origens da terra preta da Amazónia — um solo negro super fértil encontrado na floresta amazónica.
A terra negra rica em nutrientes alimenta há milénios comunidades agrícolas no interior da densa selva amazónica.
Até agora, a origem deste misterioso solo era desconhecida.
De acordo com um novo estudo, esta terra preta foi propositadamente produzida por antigas civilizações — uma prática ainda hoje mantida pelas comunidades indígenas contemporâneas.
O estudo, liderado por investigadores do MIT, nos Estados Unidos, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Brasil, foi apresentado num artigo publicado esta quarta-feira na revista Science Advances.
O solo amazónico normal é naturalmente pobre em nutrientes, tornando-o inadequado para a maioria das culturas. No entanto, a terra preta é rica em nutrientes essenciais, como carbono, fósforo e potássio, permitindo o crescimento de culturas em regiões que de outra forma seriam estéreis.
Durante anos, a comunidade científica debateu a origem desta terra negra. Alguns investigadores sustentavam que tinha sido cultivada intencionalmente, enquanto outros consideravam que era resultante de outras atividades agrícolas.
Para investigar a questão a fundo, explica o EurekAlert, os investigadores visitaram o Território Indígena Kuikuro, na Amazónia brasileira, tendo observado ações intencionais realizadas pelos habitantes locais para melhorar o solo — como espalhar cinza ou carvão.
No assentamento indígena Kuikuro II, notaram que os residentes acumulavam resíduos orgânicos provenientes da pesca e da cultura de mandioca. Com o tempo, estas pilhas decompunham-se, formando terra negra (a que os indígenas chamam “eegepe”), que era posteriormente usada para plantar culturas.
Ao comparar a terra preta de Kuikuro II com amostras de sítios antigos nas proximidades, os investigadores encontraram semelhanças na disposição espacial e na composição de nutrientes. A amostra mais antiga tinha cerca de 5.000 anos.
Adicionalmente, os investigadores fizeram ainda uma descoberta notável: a terra preta denotou ter a capacidade de armazenar grandes quantidades de carbono, devido ao material orgânico usado na sua criação.
Assim, os autores do estudo realçam o potencial desta cultura na mitigação das mudanças climáticas, sugerindo a adaptação destas técnicas indígenas a uma escala maior.