“Continua a ser uma vergonha, como país, que tenham nascido bebés de mães com 13 anos”. As fragilidades sociais e económicas e a falta de proteção nas relações sexuais são os principais responsáveis pela gravidez na adolescência. Apesar do aumento em 2022, a tendência tem vindo a ser decrescente.
De acordo com números revelados pelo Jornal de Notícias, o número de mães adolescentes aumentou 6,14%, de 2021 para 2022.
Foram mães 1591 adolescentes, mais 92 do que em 2021.
Estes números contrariam a tendência decrescente do número de mães adolescentes, que se tem verificado nas últimas décadas.
A última inversão do ciclo tinha sido em 2019, mas o aumento não tinha sido tão significativo: em 2019, só tinha havido mais 49 casos do que em 2018.
No entanto, relativamente a 2019, verifica-se uma diminuição de cerca de 50% de nados-vivos de mães adolescentes: de 2077 para 1591.
No universo de nascimentos, o número deste ano representa apenas 1,89% (só mais 0,01% do que no ano passado). Em 2019, a percentagem era 2,6%. De notar que, há 11 anos, em 2012, o valor era 3,7%.
Ana Aroso, vice-presidente da Associação de Planeamento Familiar (APF), disse, ao Jornal de Notícias, que não há sinal para alarme e que para o ano o pico deve voltar a descer.
“Há uma década, estávamos na cauda da Europa [de menos casos de gravidez adolescente] e, passados alguns anos, chegamos a ter uma percentagem mais baixa do que Inglaterra, que tem uma forte cultura de educação sexual”, enalteceu.
Ana Aroso admitiu, no entanto, que, apesar da melhoria dos indicadores, não pode haver desleixo: “Continua a ser uma vergonha, como país, que tenham nascido bebés de mães com 13 anos”.
Ao JN, Paulo Machado, vice-presidente da Associação Portuguesa de Demografia, não se mostrou muito otimista.
“Apesar de a taxa de fecundidade na adolescência em Portugal se situar quase no fundo do ranking mundial, numa comparação de maior proximidade geográfica com os países da Europa ocidental, com um desenvolvimento semelhante ao nosso, a posição nacional relativa já não é tão boa“.
Elisabete Mota, pedopedagoga, da Associação de São José, em Braga, que acolhe e apoia mães em risco, considera que a fragilidade familiar, social e económica, muitas vezes com contextos de violência doméstica e de consumos ilícitos, por parte dos progenitores, também dita estas situações.
“Uma mãe adolescente tem probabilidade de ter uma filha que vai ser mãe adolescente”, disse Elisabete Mota, e há outro problema: “a maioria das mães precoces que aqui nos chegam não usam deliberadamente proteção“, acrescentou.