Neutro durante quase toda a sua história, este país europeu não esqueceu os planos de defesa que montou no passado. Com uma ameaça de conflitos crescente, uma revisão das mais-valias de 370 mil abrigos espalhados pela Suíça pode estar à vista.
Conhecida mundialmente pelos seus pitorescos Alpes, prestigiados bancos e produção de relógios, queijos e chocolates da mais alta qualidade, a Suíça também encontra um alvo de orgulho na sua robusta postura de neutralidade no coração da Europa, com o seu último conflito militar a ter ocorrido há mais de um século.
Após sofrer uma derrota para o lado francês em 1515, na Batalha de Marignano, a Confederação Suíça despejou as suas políticas expansionistas, apontando à neutralidade.
Durante as Guerras Napoleónicas, tornou-se uma nação neutra e o Congresso de Viena, em 1815, oficializou essa posição. Embora tenha enfrentado desafios durante as Guerras Mundiais, manteve-se independente e não escolheu nenhum lado do conflito — apesar dos testes que lhe foram colocados à frente.
Um plano de defesa histórico
Foi precisamente na altura da Segunda Grande Guerra que este laço com a imparcialidade foi provocado, quando o Terceiro Reich de Adolf Hitler ameaçava a Europa. Apesar da promessa hitleriana de que respeitaria a neutralidade suíça, o país reviu as suas táticas de defesa depois de testemunhar a queda da Polónia para os nazis.
Por essa altura, os suíços fortificaram as suas fronteiras com explosivos e utilizaram as suas capacidades de engenharia para construir milhares de bunkers estrategicamente posicionados.
O país tinha um plano de defesa bem montado, e o seu nome era Reduto Nacional, que remete para a década de 1880. A ideia era o país recuar em direção à segurança, oferecida pelos seus rugosos Alpes. À chegada da 2.ª Guerra, os suíços tinham aperfeiçoado este plano e mostrado aos nazis que a invasão teria um custo significativo.
Mas Hilter e Mussolini não recuaram e tinham um plano para capturar Genebra e Lucerna e controlar a região dos Alpes — a Operação Árvore de Natal.
No entanto, devido ao elevado custo de recursos e às desafiadoras defesas suíças, as Potências do Eixo nunca o levaram a cabo e a Suíça conseguiu manter a sua independência e neutralidade — bebendo dos lucros do comércio que mantinha aberto a todas as partes.
Bunkers viraram negócio
Hoje, a Suíça ainda tem bunkers por todo o país. Mais concretamente, mais de 370 mil destes abrigos. Como diz o outro, é muito chocolate.
A verdade é que durante a Guerra Fria a Suíça continuou a fortalecer a sua posição, incorporando abrigos contra quedas de detritos radioativos em casas civis, escolas, hospitais e infraestruturas públicas por todo o país. Construídos para resistir a explosões e aos efeitos das armas de guerra modernas, estes abrigos podiam auto-sustentar-se com água e energia e armazenar alimentos e água para pelo menos cinco dias.
Esta rede de bunkers tornou-se tão predominante que se fundiu eventualmente com a identidade suíça mas, sem uma ameaça imediata na Europa, o Governo começou a desmantelar as suas defesas. Os explosivos instalados nas suas fronteiras foram gradualmente removidos e os bunkers abandonados ou vendidos a proprietários privados, como aponta o Sofrep, sendo reinventados sob a forma de outros serviços, como hotéis.
Guerra da Ucrânia faz repensar uso dos abrigos
Com uma nova guerra na Europa e constantes ameaças nucleares pelo mundo fora, os suíços podem estar a reviver as suas táticas de defesa.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tem provocado debates sobre a relevância — e eficácia — destes bunkers na estratégia de defesa do país. Proprietários de casas e edifícios estão alegadamente a procurar empreiteiros para inspecionar e reforçar os seus abrigos.
O bunker de Sonnenberg, construído entre 1971 e 1976, é um dos abrigos mais fascinantes. Conhecido como a maior instalação do seu tipo, pode acomodar cerca de 20 mil pessoas e diz-se ser capaz de resistir a uma explosão nuclear de um megaton.
Apesar da sua construção remeter à Segunda Guerra Mundial, especialistas afirmam que, com algumas atualizações modernas, estes bunkers ainda podem funcionar como fortalezas seguras.
Não se sabe ao certo se os bunkers estarão preparados para enfrentar as armas nucleares mais modernas e, especialmente, um evento de guerra nuclear em grande escala. Certo é, no entanto, que a Suíça se encontra em melhor posição defensiva em eventualidade de guerra do que muitas nações, com uma qualidade de infraestruturas superior ao resto do mundo, evidenciada por um relatório de 2019 da NBC.
Resta saber se esta concentração única no Mundo de bunkers em território nacional é, ou não, capaz de travar um ataque nuclear.