Se formos às redes sociais de um chinês na hora de almoço, é bem provável que vejamos uma sequência de imagens de almoço. Até aqui, tudo normal. A peculiaridade é que as fotografias vêm acompanhadas pelo hastag #whitepeoplefood.
Sim, está a ler bem. Os chineses estão a comer “comida de pessoas brancas” e ainda brincam com isso.
Os almoços não são receitas ultra elaboradas, são cogumelos crus e peperoni, um simples peito de frango ou uma solitária batata cozida.
De acordo com a NPR, as fotografias retratam almoços minimalistas e, por vezes não cozinhados, com base no que os chineses viram na América do Norte e na Europa.
Teresa Duan, de 23 anos, natural da província central chinesa de Hubei, famosa pelo tempero da tua cozinha, gosta de se sentir saudável com uma sanduíche ou uma salada básica, mas admite que há um toque de sarcasmo quando a frase “comida de gente branca” aparece nas redes sociais.
“Os chineses não compreendem como é que os estrangeiros se conseguem saciar com este tipo de comida. Podem até pensar que é um insulto à gastronomia“.
Duan partilha frequentemente fotografias das suas refeições de “pessoas brancas” de Xangai, inspirada na comida simples e minimalista que encontrou os seus colegas a comer quando estava a fazer a licenciatura no Reino Unido.
Diz que, no início, não estava habituada a comer uma sanduíche fria e simples ao almoço. Muitas vezes, desejava uma massa seca quente, uma especialidade da capital da província.
A massa é misturada com óleo de sésamo, molho de soja e alguns pickles azedos e é servida quente — uma especialidade da capital da província, Wuhan. A massa é misturada com óleo de sésamo, molho de soja e alguns pickles azedos e é servida quente.
Com pouco tempo livre, depois dos horários escolares, começou a achar conveniente a dieta mais poupada dos seus colegas.
“Achei que esta comida era saudável e poupava tempo ao mesmo tempo e dois ou três anos é suficiente para mudar a minha flora intestinal e ajudar-me a habituar a esta dieta e começar a gostar dela”.
Desde que regressou à China, calcula que cerca de 70% das suas refeições e enquadram no domínio da “comida de gente branca”.
A tendência criou-se principalmente entre os trabalhadores do escritório mais jovens e esgotados.
“Há mais pressão sobre os jovens de hoje, especialmente com a cultura do horário 996 (trabalhar das 9h00 às 21h00, seis dias por semana). Há menos tempo para cozinhar e preparar refeições tradicionais chinesas nutritivas”, diz Manya Koetse, editora-chefe do blogue What’s on Weibo, que segue as tendências das redes sociais chinesas.
“Pensam que misturar a dieta com a chamada “comida de gente branca” por vezes é bastante útil, porque poupa tempo e dá-nos mais tempo para continuar a trabalhar e também nos deixa menos sonolentas à tarde”.
https://twitter.com/yanarchy/status/1664585790821904384
Perry Liu, de 30 anos, vive em Pequim, e concorda com a afirmação anterior. “Para mim, a ‘comida de gente branca’ é fácil de digerir porque tenho um estômago mau. E isto usa menos óleo e especiarias, por isso sinto-me leve mesmo depois de comer”.
Diz, ainda, que a cozinha fácil de preparar e em pouca quantidade a deixa menos sonolenta à tarde. “Quando estamos sob pressão no trabalho, temos tendência a comer demais”.
Até agora, a “comida de gente branca” — moldada por forças económicas e demográficas que dão prioridade à eficiência — é um fenómeno urbano na China.
Se dissermos às pessoas de uma aldeia chinesa remota que comemos hoje “comida de pessoas brancas”, provavelmente ninguém vai perceber do que estamos a falar, diz Mei Shanshan, uma escritora de gastronomia.
A popularidade do hastag “#whitepeoplefood” (ou em chinês #白人饭 ) também reflete a mudança de perceção da cozinha ocidental por parte dos consumidores chineses, defende Mei.
Atualmente, à medida que as cozinhas de hemisfério ocidental penetram nas cidades chinesas, as pessoas sentem-se mais à vontade para parodiar e satirizar as cozinhas ocidentais.
“As pessoas tendem a olhar para a cozinha ocidental em termos mais equitativos, com julgamento e, por vezes, com um ligeiro capricho“.