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Após sessão no spa, sapos venenosos em cuecas revelam as suas habilidades espaciais

O diablito, o sapo de coxas-brilhantes e o venenoso tingido foram levados ao spa. Depois, vestiram umas cuecas para provar que as fêmeas de sapos venenosos, afinal, não têm um sentido de navegação assim tão mau.

Coloridos, canibais e tóxicos, os sapos venenosos são, no papel, muito mais fascinantes do que os “inocentes” sapos não venenosos.

Agora, os sapos venenosos da Guiana Francesa e do Equador acabam de se tornar ainda mais interessantes — estão a usar cuecas.

Ligadas a um monitor de rádio, as cuecas consistem num método de monitorização, implantadas nos pequenos anfíbios por investigadores da Universidade de Stanford que procuram descodificar as habilidades espaciais de três diferentes espécies de sapos venenosos (machos e fêmeas).

As descobertas daquele que é o primeiro estudo comparativo que incide sobre o movimento de anfíbios no seu habitat vêm desafiar a teoria mais comum para o facto de os machos terem melhores habilidades geográficas do que as fêmeas.

Até agora, não se sabe ao certo porque é que os machos têm maiores habilidades de navegação em algumas espécies.

“Em muitos mamíferos, os machos movem-se melhor e têm habilidades espaciais mais desenvolvidas”, começou por dizer a biologista de Stanford e uma das líderes da investigação publicada na eLife, Lauren O’Connell, antes de expor a teoria que tem sido sugerida para explicar essas diferenças.

“Porque as diferenças sexuais em habilidades espaciais não estão presentes em espécies monógamas, investigadores propuseram ser um traço de adaptação relacionado a diferenças sexuais em estratégias de acasalamento”, explicou.

A outra teoria defende que a maior habilidade dos machos é na verdade um efeito secundário do seu elevado nível de andrógenos — as hormonas sexuais que incluem a testosterona.

Para testar estas teorias pela primeira vez, o diablito (Oophaga sylvatica), o sapo de coxas-brilhantes (Allobates femoralis) e o venenoso tingido (Dendrobates tinctorius) foram os escolhidos, por terem todos um método parental diferente.

“Tags de monitorização em miniatura já foram usadas anteriormente em anfíbios e outros animais, mas monitorizar minúsculos sapos na floresta tropical exigiu um repensar do design da tag e dos métodos de monitorização”,disse Andrius Pašukonis, o outro líder da investigação, responsável pela invenção das cuecas — e que não esconde os desafios de as criar.

“Um dos maiores desafios tem sido projetar e aperfeiçoar um arnês de sapo que possa acomodar um sapo de até dois centímetros!”, afirmou.

Para proceder à colocação das novas peças de roupa interior, mais de 200 sapos foram removidos temporariamente do seu habitat e levados para uma sessão de spa. Tomaram um belo banho, que permitiu a recolha das suas hormonas, deixadas na água do banho.

Depois de reimplantados a 50 ou 200 metros da sua ‘casa’, aqueles que conseguiram completar 70% do caminho até casa num período de tempo estabelecido pelos investigadores foram dados como bem sucedidos na sua caminhada.

A equipa concluiu que as fêmeas do sapo venenoso tingido navegaram melhor do que os machos, provando-se a teoria que aponta para a validação da teoria dos andrógenos.

Nas rãs diablito, que têm cuidados parentais predominantemente femininos e áreas de vida maiores, as fêmeas não navegaram melhor que os machos.

Nas distâncias mais longas, as fêmeas também foram mais precisas a concluir a rota para casa.

Tomás Guimarães, ZAP //

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