Uma investigação recente expôs uma alegada campanha de “astroturfing” no Twitter, envolvendo dezenas de contas falsas que promovem a gestão dos Emirados Árabes Unidos na próxima cimeira do clima, COP28.
Brianna, Emma, Caitlin e Chloe têm muito em comum. São loiras, são americanas, apresentam-se como defensoras da causa ambiental e apoiam entusiasticamente no Twitter a realização da próxima conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas no Dubai, a COP28.
Além disso, não existem. As suas contas são falsas, as suas identidades também, e, segundo apurou uma investigação recente, as suas fotos são geradas por Inteligência Artificial ou recolhidas em bancos de imagem.
Etiquetadas como “American blondes” pelos investigadores, são dezenas de contas no Twitter criadas em Agosto de 2022, com um intervalo de poucas horas. A ONG Climate Action Against Disinformation (CAAD) identificou pelo menos 28 contas suspeitas.
Segundo o analista de desinformação digital Marc Owen Jones , haverá cerca de 93 contas potencialmente envolvidas no esquema — que publicam tweets com conteúdo semelhante, principalmente a promover Sultan Al Jaber, CEO da Abu Dhabi National Oil, que preside à COP28.
“Geralmente, estamos perante uma operação de relações públicas”, explica Jones, investigador da Universidade Hamad Bin Khalifa, no Catar, citado pela France24.
Segundo os analistas, estas contas visam fortalecer a imagem de Al Jaber, que tem sido criticado pelo seu potencial conflito de interesses, como CEO da companhia estatal de petróleo dos Emirados, na presidência de um evento que vai discutir o “fim das emissões de carbono que provocam aquecimento global”.
“Caitlin”, que se apresenta como uma “advogada”, publicou no seu perfil que a liderança de Al Jaber “será decisiva” na COP28″, enquanto “Emma”, uma “ambientalista”, elogiou a sua “paixão pela ação climática”.
Desinformação sem precedentes
Diogo Pacheco, especialista em informática da Universidade de Exeter, explicou à AFP que várias dessas contas são claramente “fakes” e que, quando denunciadas, alteram os nomes e biografias dos utilizadores.
Na opinião de Jamie Henn, diretor da campanha ambiental contra os combustíveis fósseis Fossil Free Media, “nunca houve uma campanha de desinformação tão grande” em mais de uma década de negociações climáticas.
“É muito raro que utilizadores reais criem ou usem este tipo de perfis falsos”, diz a professora de Ciências da Comunicação Katharina Kleinen von Koenigsloew, da Universidade de Hamburgo.
O astroturfing, a prática de mascarar os patrocinadores de uma mensagem ou organização política, publicitária ou religiosa para dar credibilidade a declarações ou organizações sem desvendar a sua origem , chegou ao Twitter. Há muito tempo.
Agora, com a ajuda da Inteligência Artificial.