Antónia Ferreira foi uma poderosa empresária no Douro vinhateiro, com fama de ser dura com os ricos e poderosos e generosa com os mais necessitados.
A espera chegou ao fim: já sabemos que a nova ponte sobre o rio Douro se chamará Ponte Ferreirinha, em honra a D. Antónia Ferreira. Mas o que fez esta mulher de tão especial para ter uma ponte baptizada em sua homenagem?
Nascida a 4 de Julho de 1811 no Peso da Régua, Dona Antónia Adelaide Ferreira, que ficou conhecida como “Ferreirinha”, é uma das grandes figuras históricas do Douro vinhateiro. Cresceu numa família de posses, com investimentos em vinhas na região.
Casou ainda jovem com um primo por pressão do pai, José Bernardo Ferreira. O marido não estava muito interessado no negócio do vinho e entreteu-se a esbanjar a fortuna. Ferreirinha ficou viúva aos 33 anos, o que levou a que tivesse de assumir as rédeas do negócio e descobrisse a sua paixão pelo empreendedorismo.
Para além das vinhas, investiu ainda em plantações de amendoeiras, oliveiras e cereais no Douro. Tinha um carinho especial pela Quinta do Vesúvio, que ainda hoje é uma referência na produção de vinho do Porto.
Foi um dos principais rostos na luta contra as pragas. Por volta de 1870, o oídio foi o primeiro a fazer estragos. Como tinha armazenado grandes quantidades de vinho de colheitas anteriores, a casa Ferreira acabou por beneficiar da subida dos preços causada pela escassez de vinho no mercado.
Perante a passividade do Governo, Ferreirinha foi a Inglaterra investigar os métodos mais modernos para eliminar a praga. A solução foi a utilização de vinhas americanas, que são imunes à filoxera, o que deu início a uma revolução na produção de vinho no Douro. A empresária também estendeu a mão aos agricultores mais afectados, comprando as suas quintas e evitando que acabassem nas mãos dos ingleses.
Com o apoio do administrador José da Silva Torres, com quem acabou por casar, Ferreirinha defendeu os interesses do Douro vinhateiro perante o Governo, que na altura apostava mais na compra de vinhos espanhóis e não apoiava a produção nacional, relata o Clube dos Vinhos Portugueses.
Ficou conhecida pela sua preocupação com o bem-estar dos seus trabalhadores e das suas famílias e também se dedicou à caridade na região, tendo financiado obras de benfeitoria nos hospitais da Régua e de Lamego.
Morreu em 1896, aos 84 anos, no Peso da Régua, depois de ter sobrevivido ao naufrágio do Cachão da Valeira, que em 1861 matou o Barão de Forrester. Está morta há mais de 100 anos, mas o seu legado ainda está vivo, já que a Casa Ferreirinha ainda possui muitas das quintas compradas pela empresária e que o seu nome será agora imortalizado na nova ponte.