Há mais de 500 milhões de anos, o primeiro animal nascia nos nossos oceanos. Mas afinal, quem foi o primeiro animal multicelular do mundo? A ciência pode ter desvendado o mistério que se mantém aceso há séculos.
Uma das dificuldades em descobrir quem foi o primeiro é o facto de esta misteriosa entidade, por ser certamente um animal de corpo mole, não deixa registo fóssil.
As porifera — ou esponjas — sempre foram um dos maiores candidatos ao título de ‘primeiro animal do mundo’, algo que se deve em grande parte à sua simplicidade atómica — não têm sistema nervoso, digestivo nem cardiovascular e passam a sua vida inteira no mesmo sítio, a filtrar alimento que passa pelas águas do mar.
Agora, nova informação determina que os ctenóforos (também conhecidos como carambolas-do-mar), primos distantes das alforrecas que, em contraste, percorrem grandes distâncias pelos oceanos em busca de alimento, podem ter chegado antes das esponjas.
Resultados contraditórios foram obtidos em análises anteriores, que se concentraram nas sequências genéticas. Algumas sequências sugeriram que as esponjas chegaram antes, enquanto outras ditaram que foram os ctenóforos.
Mas um estudo publicado esta quarta-feira na revista Nature revelou um padrão evidente que determina que, muito possivelmente, estas carambolas-do-mar evoluíram antes das esponjas e que as estas passaram o seu cromossoma misturado para os animais que se seguiram.
Sabendo previamente que as esponjas, alforrecas e muitos outros invertebrados têm cromossomas com genes similares, os investigadores compararam as sequências de genes conservados nos cromossomas (moléculas genéticas) e encontraram padrões que indicam a ordem da evolução dos dois organismos.
Na amostra testada encontravam-se os genomas do ctenóforo, duas esponjas marinhas, dois animais unicelulares — ameboide e coanoflagelado — e um parasita de peixes microbial, todos comparados a animais mais modernos.
Verificou-se então que as esponjas e outros animais mais modernos partilham os mesmos traços de um raro tipo de fusão de cromossomas e reordenação de eventos. Estes traços não estavam, no entanto, nas carambolas-do-mar, cujos genomas são muito semelhantes aos animais unicelulares.
“Encontrámos uma mão cheia de reordenamentos partilhados pelas esponjas e pelos animais não ctenóforos que, em contraste, se assemelharam a não-animais. A explicação mais simples é que os ctenóforos ramificaram-se antes dos reordenamentos ocorrerem”, afirmou o biólogo molecular e autor do estudo, Daniel Rokhsar, em declarações à EurekAlert.
“O sinal está lá e ele apoia fortemente o cenário ‘ctenóforos ramificaram-se primeiro’. A única maneira de a hipótese de as esponjas surgirem primeiro ser verdade seria se múltiplos reordenamentos convergentes acontecessem tanto nas esponjas como nos animais não-ctenóforos, algo que é altamente improvável”, afirmou Rokhsar, que reforçou o valor da pesquisa para outras descobertas do mundo animal.
“Esta pesquisa dá-nos contexto para entendermos o que faz dos animais animais. Este trabalho vai ajudar-nos a perceber as funções básicas que todos partilhamos, como por exemplo, como é que eles comem ou se mexem”, concluiu.