E isso será importante para famílias e empresas, segundo Mário Centeno. Bancos portugueses deverão subir as taxas dos depósitos.
O governador do Banco de Portugal disse que as taxas de juro diretoras do BCE estão a aproximar-se do máximo, mas que após isso não irão baixar, considerando, contudo, essa estabilidade importante para os agentes económicos.
“Devemos estar a aproximar-nos da taxa terminal, a taxa mais alta de um ciclo de aumento das taxas de juro, se isso é feito em junho ou julho (..) depende da inflação”, afirmou Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, na sede do Banco de Portugal, em Lisboa.
No entanto, alertou, mesmo chegando ao fim o ciclo de subidas do Banco Central Europeu (BCE), “o aperto da política monetária não termina nesse dia“, mas considerou que isso dará estabilidade aos agentes económicos, desde logo famílias e empresas.
Para o ex-ministro das Finanças (de Governos PS de António Costa), a preocupação não é tanto os níveis das taxas de juro, “porque historicamente não estão altas”, mas a rapidez com que subiram, afirmando que a previsibilidade é importante para que agentes económicos se adaptem aos preços.
O responsável lembrou ainda que as expectativas do mercado é de que até final de 2016 a taxa de juro diretora do BCE fique acima de 2%.
Desde julho de 2022, o BCE tem vindo a subir as taxas de juro diretora como medida para combater a alta inflação na zona euro. Isso tem levado à subida das taxas Euribor, o que significa um agravamento do valor que os clientes pagam pelos créditos indexados a taxa variável, desde logo para compra de casa, deixando muitas famílias em dificuldades.
O Relatório de Estabilidade Financeira indica que a subida das taxas de juro que ocorre desde 2022 “beneficiou a margem financeira dos bancos”. A margem financeira é a diferença entre os juros pagos pelos bancos nos depósitos e os cobrados nos créditos.
Contudo, refere o BdP que, ao mesmo tempo, o aumento das taxas de juro pode significar também o aumento do incumprimento do crédito (nomeadamente crédito à habitação e crédito às famílias), se os clientes não conseguirem pagar as prestações.
Também presente na conferência de imprensa, a vice-governadora Clara Raposo disse que os bancos devem ser “prudentes” e que face aos bons resultados atuais devem tomar medidas como “não distribuir na totalidade, ter cuidado na forma como investem” os lucros para “prepararem momentos no futuro que podem ser menos favoráveis”.
Subir taxas dos depósitos
O governador do Banco de Portugal disse esperar que os bancos continuem a subir as taxas dos depósitos, defendendo não haver sinais de agravamento do incumprimento dos clientes bancários, mas o regulador e supervisor bancário está atento.
Centeno disse que não há dados que indiquem um aumento do incumprimento dos créditos, até “porque as condições económicas continuam favoráveis“, mas afirmou também que “tem de ser avaliada com cautela” a evolução da situação.
O Banco de Portugal (BdP) não divulgou para já dados sobre os processos de renegociação de créditos que estão a ser feitos pelos bancos a pedido dos clientes, considerando que ainda é cedo para os obter.
Já sobre os depósitos e as baixas taxas de remuneração pagas pelos bancos, o governador considerou que “está a acontecer com alguma rapidez a subida das taxas de juro das aplicações passivas [depósitos]” e acrescentou que espera que “não tenha terminado”.
Sobre estarem a sair depósitos dos bancos para outros produtos, como certificados de aforro, considerou normal e que os indicadores de liquidez não demonstram dificuldades das instituições.
A taxa de juro dos novos depósitos a prazo de particulares registou em março a maior subida desde 2011, para 0,90%, mas Portugal mantém o segundo valor mais baixo entre os países da área do euro, segundo o BdP.
Em Portugal, a preponderância da taxa de juro variável nos empréstimos à habitação (superior a 90% do ‘stock’ de créditos) faz com que a recente e rápida subida das taxas de juro aumente no imediato os encargos com a dívida, pondo os clientes bancários particulares com dificuldades para pagar os empréstimos.
Crise política também é má
O governador do Banco de Portugal disse que qualquer crise, incluindo uma crise política, é negativa para a estabilidade financeira e que às vezes parece que “os bons resultados cansam algumas pessoas”.
Centeno apresentou em conferência de imprensa o Relatório de Estabilidade Financeira, tendo sido questionado sobre a crise política, respondendo que nenhuma crise é boa para a estabilidade financeira.
“Vou responder como um matemático responderia: não há nenhuma crise que, no momento em que aconteça, possa ajudar na estabilidade que quer que seja“, afirmou Centeno.
O ex-ministro das Finanças (de Governos PS de António Costa) afirmou que para a estabilidade financeira é preciso estabilidade e coordenação de políticas económicas (orçamental e monetária) e que é, por isso, um “grande defensor” das políticas orçamental e monetária da zona euro porque a área do euro “é o maior pilar de estabilidade económica e financeira do mundo”.
“Isso é um ativo que não se pode destruir e está ao serviço do interesse dos cidadãos da área do euro. Às vezes parece que nos cansamos de fazer as coisas bem e que os bons resultados cansam algumas pessoas. Acho isso um erro”, disse.
“A palavra crise não rima com estabilidade”, vincou Centeno.
// Lusa