Dois investigadores usaram um computador e uma pedra retirada de uma pilha de lixo de uma mina para resolver um mistério geológico de longa data.
Um mistério de longa data sobre a formação dos diamantes foi resolvido de forma curiosa. Um novo estudo publicado na Nature relata como dois investigadores decifraram um antigo mistério geológico com apenas um computador e um pedaço de uma rocha retirado da pilha de lixo de uma mina de diamantes.
A pesquisa basou-se em modelos de computador de uma rocha do continente africano recuperada do fundo da litosfera, a parte externa da Terra que fica entre 30 e 250 quilómetros abaixo da superfície, escreve o SciTech Daily.
“Basicamente, tínhamos uma composição inicial conhecida de uma rocha, que é representativa do manto da Terra num período inicial da história da Terra, antes da formação de todos os continentes”, começa Carl Wash, estudante de doutoramento e autor principal do estudo.
“Pegamos nessa composição inicial e modelamos o que aconteceria com ela se fosse progressivamente derretida e o que sobraria. E esse material é o que forma a maior parte das raízes dos antigos continentes que ainda existem hoje”, explica.
Balz Kamber, professor na Universidade Tecnológica de Queensland e co-autor do estudo, acrescenta que o “modelo basicamente prevê quais minerais e derretimentos estarão presentes à medida que se altera a temperatura do manto”. “Portanto, é uma ferramenta de previsão que se pode comparar com a composição de minerais e rochas reais”, afirma.
A rocha em causa foi minerada entre 1871 e 1914 e acabou no “monte de lixo” da famosa mina de diamantes de Kimberley, na África do Sul. “Contém uma mistura de minerais que foram arrastados no caminho para cima enquanto rasgavam a base de todo o continente numa erupção vulcânica supersónica – como nunca vimos. Os minerais nesta amostra de rocha estão tão danificados que estão a gritar até hoje, foram absolutamente esmagados”, explica Kamber.
Walsh refere que o estudo resolveu o enigma dos diamantes e das temperaturas em que se formaram, já que um diamante se transforma em grafite se for aquecido demais.
“No entanto, quando olhamos para as rochas que contêm diamantes, elas devem ter sido aquecidas a temperaturas enormes. Então, como exatamente é que aquelas rochas que foram expostas as temperaturas mais altas acabaram por ser diamantes?”, questiona.
O estudo desafia a explicação existente de “fusão e empilhamento” superficial de duas etapas.
“Anteriormente, acreditava-se que a maioria das antigas raízes profundas dos continentes teriam abrigado diamantes e que esses diamantes foram destruídos ao longo do tempo, porque a base do continente é continuamente invadida e corroída por derretimentos e fluidos ricos em voláteis”, explica.
“O nosso trabalho sugere que, na verdade, esse pode não ser o caso, que os diamantes são raros hoje – e que sempre foram raros. E isso porque podemos, pela primeira vez, saber o que falta no berço do diamante e podemos procurá-lo na superfície”, conclui.