Ameaças de duelo, mobiliário à venda e um óleo secreto. 13 estranhas tradições das coroações britânicas

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Coroação de Isabel II

A história do Reino Unido conta com vários rituais caricatos nas coroações dos monarcas. Algumas das tradições vão ser seguidas na coroação de Carlos III.

É um evento que muitos de nós só podemos testemunhar uma vez na vida — especialmente se todos os monarcas viverem tanto tempo como a rainha Isabel II. No próximo sábado, 6 de Maio, os olhos do mundo estarão em Londres, para a coroação do rei Carlos III.

Se algumas tradições reais vão ser cumpridas na cerimónia, há outros costumes antigos mais caricatos que não vão ser seguidos pela realeza britânica.

Dormir na Torre de Londres

Uma destas esteve em vigor durante centenas de anos. O monarca dormia as duas noites antes da cerimónia na Torre de Londres e as preparações incluíam a criação dos Cavaleiros do Banho — um grupo de jovens escudeiros a quem era dado um banho que simbolizava a sua pureza espiritual.

O grupo passava depois a noite a rezar, relata o Evening Standard, sendo ordenados cavaleiros pelo rei no dia seguinte. A ordem escoltava depois o soberano na procissão desde a Torre de Londres até Westminster na véspera da coroação. O último monarca a cumprir esta tradição foi Carlos II, em 1661.

Óleo secreto

Outra tradição é o mistério em torno da receita do óleo usado na coroação do monarca. O óleo era geralmente feito pelo cirurgião-boticário num secretismo total, sendo depois abençoado por um Bispo. Cada lote era grande o suficiente para durar várias coroações.

Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, uma bomba atingiu parte da Abadia de Westminster, destruindo o óleo que ainda restava. Teve assim de ser feito um novo lote em 1953, para a coroação de Isabel II.

O óleo que será utilizado na cerimónia de Carlos III foi abençoado em Jerusálem, pelo Patriarca de Jerusálem e pelo Arcebispo Anglicano da mesma cidade. Desta vez, a sua receita não é segredo — o óleo foi feito com azeitonas criadas no Monte das Oliveiras e foi perfumado com sésamo, rosas, jasmim, canela, néroli, benjoim, âmbar e flor de laranjeira.

Campeão do rei

Durante o banquete da coroação, o campeão do rei tinha o dever de entrar com uma armadura e montado num cavalo branco em Westminster Hall. O cargo começou no reinado de William, o Conquistador, e o cavaleiro tinha como missão defender a honra do rei e desafiar qualquer pessoa que se opusesse à ascenção do rei para um duelo.

A rainha Vitória acabou com a tradição na sua coroação, mas decidiu compensar Henry Dymoke, o campeão da rainha na altura, tornando-o barão. Um descendente de Dymoke também levou o estandarte real na coroação de Isabel II, mas não se antecipa que um membro da família participe na cerimónia de Carlos III.

Venda do mobiliário

Nas coroações no século XX, começou a tradição de se vender as cadeiras e bancos que foram feitos especialmente para os convidados da cerimónia. O mobiliário, que tinha a cifra real, era vendido preferencialmente a quem tinha assistido à coroação, sendo o resto leiloado. O dinheiro era usado para pagar a coroação.

Na cerimónia de Isabel II, também podiam ser feitas candidaturas para comprar os tapetes que cobriram o chão da Abadia de Westminster, com a preferência a ser dadas às igrejas.

Unção às escondidas

A unção do monarca com o óleo é o momento mais sagrado da cerimónia — tão sagrado que ninguém o pode testemunhar, além do rei e do Arcebispo de Canterbury.

A tradição dita que Carlos III ficará escondido por baixo de uma capota dourada que será segurada por cima da sua cabeça durante a unção, que indica que foi escolhido por Deus para ser o chefe de Estado do Reino Unido.

Oferta de lingote de ouro

Outro dos costumes monárquicos eram o rei oferecer um lingote de ouro de 450 gramas ao altar-mor antes da comunhão. O Lord Chamberlain entrega o lingote ao monarca, que é depois levado até ao altar pelo Arcebispo de Canterbury num saco de veludo bordado pousado numa bandeja. Há rumores de que Carlos III não vai cumprir este ritual na sua coroação.

Monarcas ausentes

É também raro ver monarcas estrangeiros a assistir à coroação de um chefe de Estado britânico. Em 1953, a cerimónia de Isabel II foi assistida maioritariamente por príncipes e princesas.

O príncipe Alberto II, do Monaco, já adiantou que vai estar presente na coroação de Carlos III, assim como o rei Willem-Alexander e a rainha Maxima dos Países Baixos, o que indica que esta tradição será quebrada em 2023.

100 xelins por uma espada

É também tradição com 650 anos que um nobre ofereça 100 xelins de prata pela Espada da Oferenda enquano esta está na sua bainha, para a redimir simbolicamente.

Os xelins são entregues ao altar numa bacia dourada. O nobre depois retira a espada da bainha e deixa-a estendida perante o monarca durante o resto da missa.

Homenagem dos príncipes

O Arcebispo de Canterbury dá início a uma homenagem ao monarca, sendo seguido pelos príncipes de sangue. Enquanto Príncipe de Gales e herdeiro do trono, o príncipe William irá participar nesta tradição, mas ainda há dúvidas sobre se os príncipes Harry e André, que têm estado envolvidos em várias polémicas e já não são membros activos da família real, vão também fazer a homenagem a Carlos.

O ritual requere que os príncipes coloquem as suas mãos entre as do monarca e lhe jurem lealdade, antes de o beijarem na bocheca. Já foi sugerido que Carlos não vai exigir o ritual aos duques, marqueses, barões, e outros nobres, de forma a tornar a cerimónia mais curta.

Perdão a criminosos

No passado, era também costume ser dado um perdão geral a criminosos durante a missa, que era lido pelo Lord Chancellor. Esta tradição foi abandonada, mas a rainha Isabel II aproveitou a sua coroação em 1953  para oferecer amnistia aos soldados desertores.

Tribunal de Reclamações

Um ritual nascido em 1377 determina ainda que todas as pessoas que têm um antepassado que participou numa coroação anterior possam candidatar-se para participar na cerimónia de 6 de Maio.

Para isto, foi criado um Tribunal de Reclamações especial para averiguar o direito hereditário de todos os interessados, que tiveram apenas quatro semanas para se candidatarem. Já foi confirmado que houve 13 candidatos vencedores.

Adriana Peixoto, ZAP //

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