A Ucrânia desespera pelos F-16, mas a Rússia pode detetá-los mesmo antes de levantarem voo

FAP - Força Aérea Portuguesa

Pistas ucranianas parecem não estar preparadas para receber F-16 e intervenções nas estruturas poderiam acabar por denunciar os planos do país invadido.

Ao longo dos 14 meses de guerra na Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy desdobrou-se em apelos aos países ocidentais para que este fornecessem armamento que permitisse aos ucranianos uma luta minimamente justa contra os invasores. Apesar da relutância inicial, vários países acabaram por ceder, enviando até tanques Leopard 2. O passo seguinte parecia ser o reforço do poderio aéreo, nomeadamente por via de aviões F-16. O problema é que estas aeronaves podem não ser um acrescento tão significativo como seria de esperar.

De acordo com uma análise feita por Michael Peck, especialista em Defesa, para o Business Insider, os F-16 são tão frágeis que precisam de bases aéreas especialmente preparadas para os receber. O problema é que estas infraestruturas poderão ser facilmente identificáveis pelos russos, que farão delas um alvo. De acordo com Justin Bronk, estes aviões têm uma entrada de ar na parte inferior do nariz que “suga tudo diretamente do chão até ela”, pelo que precisam de bases aéreas “muito limpas e com muita manutenção“.

Outra característica dos F-16 é o trem de aterragem “muito leve“, já que foi concebido para ter uma boa relação entre o peso e a propulsão, daí que não exista nos jatos “mais peso do que é realmente necessário”. Contrariamente, as aeronaves russas foram construídas para atuarem em campos de batalha mais primitivos.

É, por isso, fácil de antecipar que muito trabalho teria de ser feito nas pistas ucranianas, muitas das quais com pavimento soviético antigo, para que estas se tornassem limpas o suficiente para permitir a utilização de F-16 sem que tal significasse um perigo para os pilotos, resultado da entrada de detritos. Há ainda outro fator a considerar, com o pequeno comprimento das pistas ucranianas.

Justin Bronk destaca, por isso, que um trabalho que passe pela repavimentação das pistas, assim como o seu prolongamento, poderia facilmente ser identificado pelos russos, quer por via de satélites quer por fontes no terreno.

Apesar de a Rússia ter uma significativa vantagem no que toca ao poderio militar aéreo,a Ucrânia tem conseguido neutralizar muitos dos ataques. É importante ressalvar, no entanto, que muitas das suas bases aéreas têm sido poupadas pelos russos, precisamente pelos invasores saberem que o material ali armazenado não constitui uma ameaça. Esta postura iria alterar-se, obviamente, caso os países ocidentais, a começar pelos Estados Unidos, fornecessem F-16 à Ucrânia.

Nem o facto de a Rússia estar com o seu arsenal de mísseis cada vez mais limitado seria um elemento dissuasor, já que poucos ataques bem preparados poderiam destruir os F-16.

Numa fase inicial, os apelos da Ucrânia para a cedência de aviões estavam direcionados para os países de leste, detentores de MiG-29, os quais eram do conhecimento dos seus soldados. No entanto, com a evolução do conflito — e com a formação recebida —, os apelos mudaram. Para já, a resposta tem sido dúbia, com muitos países a questionaram também a compatibilidade de armamento que seria usado nas aeronaves e se a Ucrânia o detém.