As temperaturas frias têm um efeito misterioso na longevidade

Andy Rain / PA

Num estudo com vermes, investigadores da Universidade de Colónia, na Alemanha, constataram que o frio conduz a um processo através do qual as proteínas danificadas são removidas das células.

Várias das doenças neurodegenerativas que podem desenvolver-se à medida que envelhecemos – incluindo Alzheimer e Parkinson – estão ligadas à acumulação de proteínas danificadas. Descobrir como a temperatura afeta este processo é um passo significativo para encontrar formas de abrandar ou impedir essa deterioração.

Embora seja pouco provável que, em breve, a permanência no frio seja uma opção terapêutica, compreender o funcionamento dos processos que as temperaturas frias provocam pode ajudar-nos a replicá-los através da utilização de tratamentos específicos, relatou o Science Alert.

“As baixas temperaturas extremas são prejudiciais, mas uma diminuição moderada da temperatura corporal pode ter efeitos benéficos para o organismo”, escreveram os investigadores no seu artigo, publicado recentemente na Nature Aging.

“Embora os efeitos da longevidade associado às baixas temperaturas tenham sido relatados há mais de um século, pouco se sabe sobre como a temperatura fria influencia a vida e a saúde”, continuaram.

Os investigadores fizeram testes com o verme Caenorhabditis elegans e com células humanas cultivadas em laboratório, descobrindo que temperaturas mais frias levaram à remoção de tufos de proteínas que acumulam-se em modelos animais e celulares com esclerose lateral amiotrófica (ALS) e com doença de Huntington.

Isto foi feito através de estruturas chamadas proteasomas, que decompõem os resíduos proteicos, e em particular a versão em vermes do ativador proteasoma PA28γ/PSME3, encontrado em humanos. Foi necessária apenas uma queda moderada da temperatura para pôr o ativador a funcionar e limpar a acumulação de proteínas potencialmente perigosas.

A equipa também encontrou um pouco de engenharia genética inteligente capaz de marcar a atividade do proteasoma, conseguindo o mesmo resultado sem arrefecimento. Isto levanta a possibilidade de tratamentos que poderiam manter esses ativadores proteasómicos a funcionar, independentemente da temperatura do corpo.

“Em conjunto, estes resultados mostram como, ao longo da evolução, o frio preservou a sua influência na regulação do proteasoma – com implicações terapêuticas para o envelhecimento e doenças associadas ao envelhecimento”, disse o biólogo David Vilchez, da Universidade de Colónia.

O Caenorhabditis elegans tem muito em comum com os humanos, incluindo a forma como as proteínas se aglomeram.

Ainda há muito a descobrir sobre a relação entre as temperaturas mais frias e o envelhecimento. A temperatura média interna do corpo humano tem vindo a diminuir constantemente ao longo das décadas, por exemplo, o que pode ter influenciado o aumento da esperança de vida.

Ao analisar mais de perto e mais detalhadamente o que está exatamente a sustentar esta relação, os investigadores esperam que o ativador do proteasoma PA28γ/PSME3 possa ser uma via para o envelhecimento de uma forma mais saudável.

“Acreditamos que estes resultados podem ser aplicados a outras doenças neurodegenerativas relacionadas com o envelhecimento”, disse David Vilchez.

ZAP //

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